Em conversa com Naomi Campbell, Serena e Venus Williams ironizam racismo nos EUA: ‘Todo o mundo tem que ser amigo da vencedora’

FONTEDenise Mota, da Folha de S.Paulo
Serena e Venus Williams, durante entrevista com Naomi Campbell (Foto: Reprodução/ YouTube)

A icônica supermodelo britânica Naomi Campbell está aproveitando a quarentena para turbinar seu canal do YouTube a partir de entrevistas com alguns dos seus amigos famosos ou celebridades com quem se cruzou em várias ocasiões ao longo dos anos. As irmãs Venus e Serena Williams estão nessa lista e, dentro da série “No Filter with Naomi” (Sem filtro com Naomi), conversaram durante quase uma hora sobre infância, família, carreira, vida empresarial e racismo.

“Tanto no passado como hoje, ainda, passamos por algo que é que as pessoas dizem que o tênis é um esporte de brancos. Claro, não havia gente como nós, com a nossa cor”, afirma Serena, que também relatou problemas com patrocinadores que não a “apoiaram muito”. “O tênis é visto como um esporte ‘não necessário’. Sempre se disse que, a menos que você seja rico e possa pagar os equipamentos e os treinos, o tênis não é para você. Mas Venus e eu conseguimos mudar essa narrativa, e hoje pessoas que têm menos podem ter mais chances, porque sabem que podem se dedicar com afinco e melhorar sua situação.”

Campbell comenta que apesar dos altos e baixos dentro e fora das quadras, as irmãs sempre projetaram certa postura de altivez que denota uma autoestima construída antes da explosão internacional. “Felizmente tivemos pais que nos ajudaram a mostrar o lugar que tínhamos neste mundo e o que enfrentaríamos por causa da cor da pele. Mas o bom do tênis é que você sai das quadras e vai para as palestras do mundo corporativo dos EUA, porque todo o mundo tem que ser amigo da vencedora”, ironiza Venus, 15 meses mais velha do que Serena. “Então o que vimos foi uma mudança de paradigma, e acho que isso abriu portas para muitos tenistas jovens.”

Foto: @jimmiePhotography

“Passei por uma situação horrível, de ser vaiada por uma arquibancada inteira, mas tivemos pioneiros incríveis nas quadras, que vieram antes de nós e que também abriram portas”, emenda Serena. Vencedora de 23 grand slams, ela afirma assistir a partidas pela TV sem ouvir a narração. “Eu tiro o som. Alguns comentaristas ainda estão acostumados a um tempo onde não era comum ver gente como nós. Às vezes as pessoas que me seguem me escrevem contando coisas horríveis que eles disseram, então ponho tudo no ‘mudo’ e deixo que minha raquete fale. Vivemos em um mundo onde ainda acontecem muitas coisas que não deveriam acontecer.”

Sobre a quarentena, Venus conta que a primeira coisa que deseja fazer após o final da pandemia é “voltar às competições”. Serena diz que tem saudades de jogar com o pai, Richard, de 78 anos, com quem costumava treinar às vezes. “Essa pausa não tem precedentes para tenistas, nós jogamos durante 11 meses do ano. Estamos vivendo o dia a dia. Tanto Venus como eu construímos marcas que excedem o tênis. Passamos o dia ao telefone, literalmente, tocando nossas empresas. Estamos trabalhando na expansão das nossas marcas e pensando no que será o futuro para nós e para nossos negócios.”

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