Encontrar-te-me

 

É certo que existe toda classe de encontros. Os rápidos, os prolongados. Os amorosos, comerciais, corporais, espirituais. Tem gente que os celebra e os homenageia em romances, canções, filmes, grafites.

Já outros desconfiam um tanto deles. Por exemplo, Manuel Bandeira (1886-1968) ao poetar o não encontro: “As almas são incomunicáveis. Deixe o teu corpo entender-se com outro corpo. Porque os corpos se entendem, mas as almas não.”

Que me perdoe o poeta recifense, mas há encontros transcendentais, como a junção das águas do Rio Negro com o Rio Solimões. O espetáculo é o toque da alma escura do primeiro com a alma barrenta do segundo. Quem viu, jamais esquece.

Também há bem-sucedidos encontros entre um indivíduo e um ofício, entre esperança e realização, um recado e seu leitor, luta e vitória, bola e fundo da rede, estratégia e resultado. É um substantivo do bem.

Mas é claro, como tudo, ele tem o seu contrário, a sua sombra. No caso, o desencontro. Você revendo uma antiga paixão sem sentir mais nada. Ouvindo uma velha amiga sem acreditar em uma única palavra do que ela diz. Paradoxos da vida.

Todo encontro é um abraço. É uma abertura para possibilidades de convívio ou realização. É o feito junto! Mesmo o autoencontro compreende dois eus. O atual com o passado. O eu tangível com o intangível.

De todos os encontros, o que eu mais gosto é aquele carimbado de fortuito. Você não está aguardando neca de pitibiriba e click, algo acontece. Ele pode ocorrer no balcão da padaria, no ponto de ônibus, na fila do banco, na mesa do bar.

O gostoso é a surpresa. A conexão. Aí, alguém diz algo que completa o que você andava pensando faz tempo. Alguém olha para você e radiografa seu melhor interior. Um pequeno gesto com vocação de big-bang.

No entanto, os encontros aleatórios precisam de um ambiente propício. A gente necessita estar disponível para eles. É quando nos abrimos para enxergar o detalhe, ouvir o diferente, sentir o outro. Nessa ocasião, puxe uma cadeira.

 

Fonte: Yahoo!

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