Enegrecida Festival: aquilombamento, protagonismo e cura

Provavelmente se você está lendo esse texto ainda em maio de 2022, enquanto você está fazendo isso, eu e uma equipe estamos correndo para finalizar o Enegrecida Festival. Durante esses os dias (13, 14 e 15 de Maio) estivemos enegrecendo a cidade de Campina Grande, Paraíba, com um festival de artes integradas com o protagonismo de mulheridades negras. O Enegrecida Festival vem para comemorar os 5 anos de trajetória da Enegrecida, que fez aniversário dia 8 de Maio. É a realização de um sonho meu, mas que foi abraçado muitas pessoas para que pudesse ser construído. Eu precisei acreditar de novo, para que as outras pessoas acreditassem também. Rincon Sapiencia, sempre esperto, mandou a real quando falou que “nunca ache que o seu sonho é querer demais, lembra do corre que é feito no cotidiano”. E por isso eu preciso falar com vocês sobre o que aconteceu para chegar até aqui.

O ano era 2019, eu sonhei em realizar o Festival D’Pretas, depois de 2 anos do projeto Enegrecida estar caminhando. Inspirado em outros festivais que participei em outros estado e cidades do Brasil que traziam o protagonismo de mulheres negras. Nessas idas e vindas, voltei pra casa com o sentimento de que eu precisava fazer isso acontecer. O debate interseccional a partir do nosso protagonismo precisava mais frequente na minha cidade. Contei a algumas pessoas, construí uma programação, convidei mulheres e fui a luta com cartas de patrocínio. Preciso contar pra vocês o porque não rolou? Quem iria querer escutar uma menina preta que sonhava em realizar um festival protagonizado por mulheres negras, numa cidade do interior (conservadora e que finge não ser), em 2019, não é mesmo? E por algum tempo eu acreditei nisso e desisti de tentar novamente e o projeto foi engavetado.

Corta para 2022, somos uma equipe de pouco mais de 10 pessoas dando conta de um festival com mais de 20 mulheridades negras, que acontece em 4 pontos da cidade e trazendo uma programação diversa. Somando com a equipe, são mais de 30 pretinhas fazendo esse corre imenso acontecer. Se isso não é ancestralidade e cura, eu nem sei o que seria. E não foi fácil construir isso tudo na correria, mas só foi possível por essa rede construída, pelo aquilombamento.

Queria chegar aqui pra contar detalhes vividos que ainda nem sei qual são. Mas o que posso contar pra vocês, é que chegar na noite de abertura, olhar para as pessoas que estavam lá, pensar nessa história construída até aqui, confirma as palavras de Emicida que somos realmente o único representante dos nossos sonhos aqui nesse mundo. E isso me fez realmente correr, mas só consegui chegar porque não estava sozinha.

São tantas experiências, trocas, olhares, choros, risos até então, que nem sei explicar o que já é esse festival e a revolução que faz na gente. Flora Matos, outra referência pra mim, fala em uma de suas músicas que “ainda não tenho tudo o que eu quero mas tudo que eu tenho pretendo continuar dando o maior valor. E tudo que eu tiver de mais, eu quero mais é dividir com quem eu realmente achar que é merecedor”. 

Eu poderia parar para agradecer as políticas de apoio a cultura que me possibilitaram financiar este festival. Mas eu quero agradecer, mesmo, as pessoas que durante esses 5 anos deram credibilidade a história construída pela Enegrecida. Que acreditam que somo agentes modificadores e que estamos aqui sim construindo uma mudança que acreditamos ser necessária e urgente. 

Me desculpem se esperavam mais desse texto aqui. A verdade é que, agora, a autora só consegue sentir. Esse texto foi escrito na pura emoção e em breve, depois de processar toda essa energia emanada esses dias, talvez eu volte com mais explicações para esse sentir. Enquanto isso, convido você acessar nossas redes sociais (@enegrecida) e entender desse mix de sentimentos ainda não serem externados por completos. x

Tudo o que nós tem é nós, galera. E é na coletividade que a gente avança! 

Avante, meu povo! E que esse seja a primeira edição de muitas.

Viva a Enegrecida! Iniciativa social, loja, página e, agora, festival!


Minibio

Carolina Brito é produtora cultural, mobilizadora social, empreendedora e social media paraibana, natural de Campina Grande-PB. Bacharela em Arte e Mídia, MBA em produção de conteúdo para mídias digitais e pós-graduanda em História e Cultura Afro-Brasileira. Além disso, é fundadora da Enegrecida, espaço em que une pesquisa, ação e empreendedorismo em prol, principalmente, do protagonismo das mulheridades negras e que, neste mês de maio, completa 5 anos no formato de um festival.


** ESTE ARTIGO É DE AUTORIA DE COLABORADORES OU ARTICULISTAS DO PORTAL GELEDÉS E NÃO REPRESENTA IDEIAS OU OPINIÕES DO VEÍCULO. PORTAL GELEDÉS OFERECE ESPAÇO PARA VOZES DIVERSAS DA ESFERA PÚBLICA, GARANTINDO ASSIM A PLURALIDADE DO DEBATE NA SOCIEDADE.

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Geledés Instituto da Mulher Negra
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