Ensino agoniza com calor, descaso e ataques a professores no RS

Enviado por / FonteUOL, por Jeferson Tenórorio

O Rio Grande do Sul tem registrado nos últimos dias ondas de calor extremas. Algumas cidades chegaram a registrar recordes históricos de temperaturas, como no caso de Quaraí, que registrou calor de 43,8ºC, a maior temperatura do RS em mais de um século.

Com as altas temperaturas, o sindicato dos professores entrou com uma liminar para adiar o início das aulas. Em respostas, o governo estadual recorreu da ação e quer reverter o adiamento.

O calor extremo no sul durante essa época do ano é bastante conhecido pelos gaúchos há décadas. Não é nenhuma novidade para o governo do estado.

No entanto, o que vemos não são apenas os efeitos do aquecimento do planeta, mas um verdadeiro descaso e sucateamento das escolas.

Os prédios escolares não estão preparados para lidar nem com calor, nem com o frio extremo.

Dei aula em escolas públicas do RS por 18 anos e acompanhei a deterioração dos espaços escolares: paredes mofadas, tetos cedendo, ventiladores quebrados ou com mau funcionamento, cadeiras e classes velhas e obsoletas, banheiros danificados. Isso sem contar a precariedade da falta de professores, funcionários e bibliotecários.

Com um cenário desses, o governo do estado ainda quer impedir o adiamento das aulas, passando por cima das mínimas condições para estar numa escola. Falta sensibilidade e humanidade.

A Secretaria de Educação argumenta que hoje são 2.320 escolas na rede estadual, atendendo 700 mil alunos e que grande parte desses estudantes encontram-se em situação de vulnerabilidade social, sendo a escola um espaço de acolhimento.

Entretanto, como acolher estudantes nessas condições?

Para piorar a situação, na semana passada a Câmara de Vereadores de Porto Alegre tornou lei o projeto inspirado na “escola sem partido”.

A lei busca combater a chamada “doutrinação ideológica” em instituições de ensino e proíbe a emissão de opiniões de cunho pessoal pelos professores e funcionários.

A lei nada mais é do que um ataque à livre docência, um ataque explícito aos professores, ao conhecimento e à inteligência.

Em 2020, o STF considerou inconstitucional uma lei estadual de Alagoas vinculada a uma ideia semelhante.

Assim, além de ferir a Constituição, a lei abre um caminho perigoso para perseguições a professores dentro das instituições.

Um caminho que deixa passar obscurantismo, a ignorância, descredibilizando os profissionais da educação que tanto sofrem com a precariedade. A educação no Rio Grande do Sul agoniza e pede socorro.

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