Entrevista com Elza Campos, Coordenadora Nacional de A União Brasileira de Mulheres( Parte 1)

Minha entrevista com Elza Campos, Coordenadora Nacional de A União Brasileira de Mulheres

Por: Erol Anar

O que a UBM está fazendo e pretende atingir através dos seus trabalhos para as mulheres no Brasil?

EC: A União Brasileira de Mulheres, fundado em 1988 portanto com 23 anos de trajetória na defesa dos direitos e pela emancipação das mulheres, realiza além das ações em conjunto com os movimentos sociais para romper com as desigualdades de renda e realizar sua distribuição equitativa, a UBM com organização em todos os Estados brasileiros encontra-se presente no cotidiano das lutas para enfrentar as desigualdades de acesso ao poder, da igualdade no trabalho, na luta contra a violência doméstica e familiar, na defesa dos direitos sexuais e reprodutivos, na defesa do meio ambiente, incentivar a luta pelo controle social sobre a veiculação de conteúdos discriminatórios na mídia que tratam a mulher como mercadoria e objeto, transformar esta realidade em uma mídia igualitária que mostre a verdadeira cara da mulher trabalhadora brasileira. além de contribuir para a veiculação da imagem da mulher inteligente, trabalhadora e capaz de estar na política, e não como um corpo de consumo. Do ponto de vista internacional a UBM defende a integração da solidariedade internacional, e apoiar as manifestações contra a política imperialista dos Estados Unidos e seus aliados. A UBM tem como slogan Por um Mundo de Igualdade, contra toda a opressão, expressando a perspectiva da reafirmação de sua corrente feminista emancipacionista na construção de uma nova sociedade de mulheres e homens livres.

Quais países na América Latina tem as melhores condições para as mulheres e quais os piores? Por que?

EC: Embora tenhamos no Brasil uma presidenta o Brasil é um das nações latino-americanas com menos presença feminina no Congresso Nacional, lugar onde as leis são propostas, discutidas e votadas, afirmou que brasileiras só são mais bem representadas no Parlamento do que as mulheres de Belize, Haiti e Colômbia.

A eleição da primeira mulher para Presidência da Republica, por si só, é um fato histórico para o Brasil. Neste mesmo ano, o Brasil completou 80 anos da conquista do voto feminino. Mas em comparação com outros países da América Latina e do Caribe, o Brasil apresenta uma das menores taxas de representação parlamentar feminina, perdendo somente para Belize, Haiti e Colômbia. Em países como Argentina, Costa Rica, Peru, Equador e Bolívia já se alcançaram níveis de participação parlamentar em torno de 30%. A média regional de participação feminina nos principais órgãos legislativos nacionais é 22,1%, no Brasil, o índice é 12,3%.

Os países desenvolvidos enfrentam problemas quanto à violência contra meninas e mulheres. O Brasil tem uma lei pioneira, a Lei Maria da Penha, mas que ainda precisa avançar em sua implementação. Seria agora o momento, com uma mulher na presidência. É preciso ter em conta essas profundas desigualdades, sobretudo quando se trata de mulheres negras e indígenas, que vivenciam dupla discriminação, de gênero, raça e etnia.

Existe racismo na América Latina com relação as mulheres indígenas e afro-americanas? Se existe, em quais países?

EC: Segundo estudos da FDIM (Federação Democrática Internacional de Mulheres) intitulado a Mulher e o Mercado de Trabalho (2011), a questão racial tem sido discutida em diversas conferências mundiais e tem pressionado os Estados para a efetivação de políticas públicas., e tornado público a questão do preconceito racial e de gênero.

As mulheres tiveram destaque na IV Conferência Mundial sobre a questão da Mulher de Beijing realizada em 1995. Também na III Conferência Mundial de combate ao racismo, à Discriminação Racial, à Xenofobia e a Intolerância, foi destaque a luta para a efetivação de políticas públicas e de ações afirmativas para erradicar toda forma de discriminação e intolerância contra a população negra.

Entendemos que no Brasil a adoção das políticas de cotas para a população afro-descendente na universidade pública constitui uma das maiores vitórias do Movimento Negro até os dias de hoje.

Segundo Nilza Iraci, da ONG Géledes as mulheres negras estão na base da pirâmide social, não só no Brasil, mas nos demais países da América Latina e do Caribe. Na América Latina o racismo e sexismo andam juntos e precisam ser enfrentados pelos governos. Para ela, é preciso lembrar que no caso da mulher negra, na região, há uma dupla vitimização.

No Brasil, são as mulheres negras que recebem os menores salários, que não têm acesso aos serviços de saúde de qualidade, são as maiores vítimas da violência e encontram-se em grande número no trabalho doméstico, que é precário e explorado.

Destaca-se a existência da Secretaria de Políticas de Promoção para a Igualdade Salarial e a Secretaria de Políticas para as Mulheres no Brasil, a partir da instituição de governos mais democráticos como o de Lula e agora o de Dilma. Mas estas Secretarias, ainda padecem de fata de um maior orçamento para o desenvolvimento de políticas públicas.

Qual é o estado das mulheres trabalhadoras na América Latina e no Brasil?

EC: Em estudo recém-divulgado, o Banco Interamericano de Desenvolvimento –BID – mostra que, apesar do recente crescimento econômico e das políticas destinadas a reduzir as desigualdades, as diferenças salariais relacionadas a gênero e etnia continuam sendo significativas nos países latino-americanos.

O relatório do Banco Mundial mostra que, no Brasil, a cada dólar recebido por trabalhadores homens, é pago em média, US$ 0,73 a trabalhadoras mulheres.

O estudo promoveu a análise de informações domiciliares provenientes de 18 países da região, constatando que as mulheres, os/as negros/as e os/as indígenas recebem salários inferiores aos dos homens brancos na América Latina.

As mulheres latino-americanas ganham menos, mesmo que possuam um maior nível de escolaridade. Esta pesquisa mostra que os homens ganham 10% a mais que as mulheres. A população indígena e negra ganha em média 28% a menos que a população branca.

No Brasil o índice chega a 30% de diferença nos salários pagos com a mesmo função.

Vai continuar…

 

 

Fonte: Oficina da Vida

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