Kabengele Munanga – “África e Imagens de África”

Foto: IEA

(…)o problema é que nós sabemos que muitas destas identidades podem ser manipuladas na luta pelo poder. Por exemplo, muitos dos conflitos que hoje chamam-se de conflitos étnicos na África, do meu ponto de vista, são guerras civis, em que as pessoas manipulam as identidades étnicas ou regionais para ter acesso ao poder.

SANKOFA: Professor Kabengele Munanga, muito obrigado pela sua presença. Temos aqui três blocos de questões: a) sobre a África e os estudos de África; b) sobre os estudos de África no Brasil; c) sobre educação, África e os afro-descendentes. Começando o 1º bloco temos uma pergunta acerca da importância do saber e do conhecimento africano na época dos movimentos de independência. A geração intelectual que participou dos movimentos de independência nacional na África lutou por um sujeito africano do saber. O Sr. acredita que este é um objetivo alcançável hoje?

MUNANGA: Bom, em primeiro lugar, quando os países africanos tiveram a independência, eles tinham poucos intelectuais. Mas eles tinham uma consciência clara que a construção da África como fonte de conhecimento passava por uma reflexão diferente. Uma reflexão do ponto de vista dos africanos, para romper com uma visão da África que vem do exterior, dos colonizadores e da historiografia oficial. Tarefa difícil, mas eles tinham a consciência de que precisava descolonizar o conhecimento da África. Passaram por várias experiências, mas a experiência da criação, em Paris, da revista Présence Africaine, que foi fundado pelo intelectual senegalês Alioune Diop, foi fundamental. Ali os africanos tinham um órgão em que eles tinham a liberdade de se expressar, sem ser obrigados a passar pelo crivo das edições européias, que defendiam uma linha de pensamento que nada tinha a ver com o que eles pensavam sobre a África. Isso foi uma conquista muito grande, uma maneira de se tornar independente em termos de pensamento.

Além disso, muitos estavam preocupados com a questão da construção da identidade africana, que também passa por esta autonomia. Essa identidade enquanto discurso só podia ser construída a partir da visão dos africanos. Então, alguns dos melhores autores que nós temos, como Aimé Césaire, Léopold Sédar Senghor e outros, participaram da construção da Negritude como movimento intelectual. Esta também era uma maneira de pensar a África do ponto de vista dos africanos. Visava-se construir uma identidade africana, a partir da literatura, da arte, etc…

*Kabengele Munanga é professor Titular do Departamento de Antropologia da FFLCH-USP. Entrevista
concedida no dia 28/05/2008, Departamento de Antropologia, FFLCH-USP, São Paulo.

Leia entrevista  completa em anexo PDF

Kabengele Munanga Africa e Imagens de África

Fonte: Sankofa. Revista de História da África e de Estudos da Diáspora Africana Nº 1 jun./2008

 

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