A professora de literatura Adiles da Silva Lima, 58 anos, é natural de São Borja, mas vive há mais de três décadas em Porto Alegre. Contudo, é o nome de Canoas que tem promovido nos últimos meses. Ela está na Secretaria Municipal de Educação, trabalhando na implementação da Lei 10.639 de 2003 – que inclui no currículo da rede de ensino a obrigatoriedade da disciplina de História e Cultura Afro-Brasileira.
Fonte: Zero Hora
E também representará o Estado ao lado de Isabel Gelenice, líder da comunidade quilombola de Canoas, e Paulo Renato Vergara, integrante de entidades religiosas, na 2ª Conferência Nacional de Promoção da Igualdade Racial, que ocorre de 25 a 28 deste mês, em Brasília. A professora, que já lecionou em escolas como o Instituto de Educação e a Júlio de Castilhos, sofreu discriminação e buscou embasamento sobre o tema num curso de pós-graduação em Estudos Africanos e Afro-Brasileiros na Cesuca, em Cachoeirinha. Depois, passou a ministrar oficinas e palestras, onde fala a respeito da temática.
Em sua nova batalha, Adiles pretende implementar a lei com qualidade e diz que os alunos precisam conhecer o significado dos movimentos negros.
– A cultura brasileira está impregnada de africanidade, a gente que não reconhece. Foram 500 anos de invisibilidade.
Confira, a seguir, a entrevista que o jornal fez com a educadora.
+ Canoas – Ainda existe preconceito?
Adiles da Silva Lima – Se eu disser que preconceito existe, tenho que provar. E os números provam. É só pegar estatísticas de Unicef, Unesco, Inep e IBGE, que analisam fenômenos sociais e a mobilidade social do negro. O negro está sempre abaixo. Daí vem a ideia de que ele não consegue se organizar. Mas não se diz o que aconteceu com o negro que veio para cá. Mesmo depois da abolição, não podia frequentar a escola.
+ Canoas – Quais as consequências de uma implementação malfeita da Lei 10.639?
Adiles – Vai ser pior, com certeza.
+ Canoas – O que fazer para que isso não ocorra?
Adiles – A lei precisa ser conhecida. É preciso uma revisão dos livros didáticos. Bolsas da Capes não são dadas a quem estuda cultura negra, por falta de orientadores. A culpa maior é da universidade, que não prepara os educadores. Ainda há professores com um olhar eurocêntrico.
+ Canoas – Como vai ser a implementação da lei em Canoas?
Adiles – Estamos fazendo um trabalho de base. Quando cheguei, trabalhei a formação interna, para dizer o que é a lei. Depois, foi a vez da formação com gestores do Pró-Jovem e do EJA (Educação de Jovens e Adultos). Estamos providenciando uma formação com gestores de escolas.