Escandalizado, Geoffrey Robertson denunciará julgamento de Lula à ONU

Advogado australiano apresentará um relatório à organização, alertando que houve maniqueísmo, distorções e condutas indevidas, o que caracterizam violação do direito do ex-presidente.

Da Revista Fórum 

Foto: Pedro França/Agência Senado

Na próxima segunda-feira (29), o advogado australiano Geoffrey Robertson apresentará um relatório à ONU denunciando o maniqueísmo, as distorções e as condutas indevidas que a seu ver caracterizam violação do direito do ex-presidente Lula a um julgamento justo. Ele foi autorizado a assistir presencialmente ao julgamento e viu coisas que apontou como impensáveis numa corte europeia. As informações são da coluna de Tereza Cruvinel, no Brasil 247.

Robertson, que representa Lula no processo apresentado à Comissão de Direitos Humanos da ONU, ainda antes do julgamento por Sergio Moro, não detalhou quais podem ser os desdobramentos do processo dentro da Organização. Mas devem ser mais políticos que jurídicos, não afetando as decisões do judiciário nacional que tanto o escandalizou.

“Foi uma triste experiência ver que normas internacionais sobre o direito a um julgamento justo não parecem ser seguidas no sistema brasileiro”, declarou Robertson nesta quinta-feira (25).

Robertson criticou, por exemplo, o fato do promotor Mauricio Gotardo Gerum, responsável pela acusação, sentar-se junto do relator e ter conversas particulares com os desembargadores ao longo do julgamento. Espantou-se com o fato de que os três magistrados terem levado seus votos prontos e escritos, numa evidência de que já tinham opinião formada antes de ouvirem qualquer argumento da defesa.

“Uma corte de apelação é uma situação em que três juízes escutam os argumentos sobre a decisão de um primeiro juiz, que pode estar certo ou não”, afirmou. “Os juízes hoje (no julgamento do dia 24) falaram cinco horas lendo um script. Eles tinham a decisão escrita antes de ouvir qualquer argumento. Nunca escutaram, então isso não é uma sessão justa, não é uma consideração apropriada do caso”, ponderou Robertson.

Sobre o caso em que defende Lula na ONU, contra os procedimentos de Sergio Moro na primeira instância, Robertson comentou que o sistema brasileiro não permite que o responsável pelo julgamento seja imparcial. “Aqui no Brasil vocês têm um juiz que investiga o caso, define grampos e ações de investigação, para depois também julgar a pessoa no tribunal”, avaliou. “Isso é considerado inacreditável na Europa. Impossível”, garantiu. “Pois isso tira o direito mais importante de quem está se defendendo: ter um juiz imparcial no seu caso”.

Disse ele ainda que Moro atuou com pré-julgamento exatamente por ter sido o juiz da investigação e do julgamento de Lula. “Ele demonizou Lula, contribuiu para filmes e livros que difamaram o ex-presidente e encorajou o público a apoiar sua decisão. Moro jamais poderia se comportar assim na Europa.  Depois, divulgou para a imprensa áudios capturados de forma irregular, de conversas entre Lula e a ex-presidente Dilma Rousseff. Pediu desculpas, mas imediatamente deveria ter sido retirado do caso”.

Robertson justificou suas opiniões lembrando seu trabalho como promotor em ação de direitos humanos contra o general Augusto Pinochet e sua participação em acusações contra o cartel de Medelín. “Tenho experiência com casos de corrupção e, aqui nesta sessão, não vi evidências de corrupção. Foi uma experiência triste sobre o sistema judiciário brasileiro”.

*Com informações de Tereza Cruvinel, do Brasil 247

+ sobre o tema

Caso Marighella: MPF pede condenação de 37 ex-agentes da ditadura

O Ministério Público Federal (MPF) ajuizou uma nova ação...

“A gente precisa sair desse luto e ir para a luta”, diz Macaé Evaristo

Depois de ser anunciada como a nova ministra dos Direitos...

Esther Dweck assume interinamente Ministério dos Direitos Humanos

Após demitir Silvio Almeida do cargo de ministro dos...

para lembrar

A flor, a náusea, a “nossa Rafaela” e a desconhecida

Em artigo recém publicado(1), disse que Drummond não foi...

Violência, violências – Por: Roberto Amaral

A direita precisa da violência das ruas para exercer...

Luiz Eduardo Soares, autor de livro que inspirou Tropa de Elite: “A dupla Bolsonaro-Moro tem nos dado o inverso do que o Brasil precisa”

Entrevista: Luiz Eduardo Soares, secretário nacional de Segurança Pública (Senasp),...

13/10 – Segundo Turno – Vox Populi: Dilma tem 48%; Serra tem 40%

Levantamento encomendado pelo iG dá à candidata do PT...

Comunicado sobre a demissão do ministro Silvio Almeida

Nota à Imprensa Diante das graves denúncias contra o ministro Silvio Almeida e depois de convocá-lo para uma conversa no Palácio do Planalto, no início...

Anielle confirma a ministros ter sido vítima de assédio de Silvio Almeida

A ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, foi ouvida por colegas ministros no Palácio do Planalto nesta sexta (6). Ela confirmou que foi vítima...

Chefe da ONU reforça a necessidade de ação global contra o racismo em homenagem ao Dia Internacional da Ascendência Africana

No Dia Internacional da Pessoas de Ascendência Africana, comemorado em 31 de agosto, o secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), António Guterres, fez...
-+=