Fonte: Jornal Pequeno –
Açailândia – Os participantes do I Encontro Nacional do “Escravo, nem pensar!” fazem agora parte de uma rede de prevenção ao trabalho escravo. Ao todo, 150 professores da rede pública e lideranças comunitárias, de seis Estados diferentes do país (Pará, Mato Grosso, Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia), se tornaram agentes especiais do programa mantido pela organização-não governamental (ONG) Repórter Brasil.
Os agentes se comprometeram a formar grupos de estudos sobre o tema do trabalho escravo em seus municípios, repassar os materiais recebidos para os demais professores e atores sociais, além de articular redes estaduais de prevenção. “Os agentes especiais serão nosso contato direto com o município para facilitar a troca de informações”, explicou Mariana Sucupira, que faz parte da equipe de educadoras do “Escravo, nem pensar!”.
Alguns professores viajaram mais de 58 horas de ônibus, do Mato Grosso até Açailândia (MA), para participar do encontro e assumiram diversos compromissos para trabalhar o tema em seus municípios promovido pela Repórter Brasil, pelo Centro de Defesa da Vida e dos Direitos Humanos (CDVDH) de Açailândia (MA) e Comissão Pastoral da Terra (CPT). “Mais de 40 municípios foram representados durante o evento. Alguns professores já estão com a ideia de promover um encontro entre os municípios mais próximos”, complementa Mariana.
Foram três dias de debates, apresentações culturais e troca de experiências sobre a realidade brasileira, a educação e formas de combate ao trabalho escravo. “Vamos aplicar as experiências que trocarmos em nossos estados. Precisamos discutir as formas de prevenção, repressão e reinserção dos trabalhadores libertados para ampliar o combate ao trabalho escravo”, disse Antônio Filho, do CDVDH, um dos organizadores do evento.
Para José Guerra, da Secretaria Especial de Direitos Humanos (SEDH) da Presidência da República, que esteve na mesa de abertura do evento, o encontro também é um momento para avaliar as metas do 2º Plano Nacional para a Erradicação do Trabalho Escravo (PNETE), lançado em 2008.
”Falar em trabalho escravo e não falar em educação não ajuda na resolução do problema”, opinou Milton Teixeira, do CDVDH, durante o debate Papel da sociedade civil no combate e na prevenção ao trabalho escravo. Milton lembrou que o Maranhão é um dos estados campeões quando se trata de miséria e analfabetismo. “Os investimentos do governo vão para as grandes obras, agronegócio e grandes empresas. Enquanto esses setores crescem, aumenta também o número de denúncias de trabalho escravo”.
Para Leonardo Sakamoto, diretor da Repórter Brasil, o papel da sociedade civil é fundamental para erradicar o problema. Leonardo reforçou a importância da “pressão” da sociedade civil no combate ao crime e destacou a necessidade de aprovação da Proposta de Emenda Constitucional (PEC 438/2001) do Trabalho Escravo, que está parada na Câmara Federal. ”O trabalho escravo é um sintoma que mostra que algo está errado em nossa sociedade, esse modelo de desenvolvimento e progresso sustenta as desigualdades sociais.”
“O evento nos permitiu uma verdadeira exposição existencial, algo que se constituiu, mesmo que ninguém assim o tenha chamado, como o primeiro Congresso Nacional dos lutadores e lutadoras contra o trabalho escravo e degradante”, definiu frei Luciano Bernardi, da CPT da Bahia.
As oficinas – Rodas de conversa sobre temas relacionados direta ou indiretamente ao trabalho escravo, como exploração sexual, questão agrária e meio ambiente – foram realizadas (confira textos produzidos pelos participantes no blog do I Encontro Nacional do “Escravo, Nem Pensar!”) na Escola Municipal Fernando Rodrigues, localizada no bairro de Vila Ildemar
A Vila Ildemar, em Açailândia, costuma ser ponto de aliciamento de trabalhadores para a escravidão contemporânea. Os trabalhos culturais desenvolvidos pelos participantes do encontro do “Escravo, nem pensar!” também foram apresentados na escola.
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