Escritório de advocacia no Rio de Janeiro luta contra o racismo no meio jurídico

Angela Borges Kimbangu é advogada e tem mais de 20 anos de atuação na área de infância e juventude. Há mais de seis meses ela decidiu se unir a outras quatro mulheres advogadas pretas para criar um escritório de advocacia no Rio de Janeiro, o Borges & Mariano Advogadas Associadas. A motivação para a decisão se deu após perceber como as mulheres pretas são tratadas no ambiente jurídico.

Por

Da esquerda para a direita, Andréa Nascimento, Carmen Lúcia, Giovana Mariano, Ângela Borges e Maria Aparecida- todas mulheres negras vestidas formalmente e sorrindo para a foto
Da esquerda para a direita, Andréa Nascimento, Carmen Lúcia, Giovana Mariano, Ângela Borges e Maria Aparecida. (Foto: Imagem retirada do site Noticia Preta)

“A gente ainda encontra algumas dificuldades junto ao judiciário, que ainda não está acostumado a ver mulheres pretas na área do Direito, que é tão elitista ainda”, destaca Angela.

Ela também reforça que desde que fez a opção pelo Direito percebe o olhar preconceituoso da sociedade em relação a presença de mulheres pretas como advogadas no ambiente jurídico.

“Como assim, você vai fazer Direito? Você não tem cara de advogada!”, lembra Angela, sobre as constantes falas a ela dirigida quanto a escolha profissional.

Mas disposta a reverter essa realidade racista, Angela e mais quatro advogadas pretas se uniram no escritório para assim contribuir com uma maior presença feminina no ambiente jurídico.

“A Maria sozinha trabalhando como advogada não tem a mesma força do que trabalhando com as outras. Isso é importante porque conseguimos nos unir para prestar um serviço de qualidade e em conjunto.” explica Maria Aparecida Anunciação Ferreira, advogada, formada desde 2011 e atuante na área de consumidor pelo escritório.

As pessoas sempre esperam que uma advogada seja sempre uma mulher loira, branca e nós fugimos desse estereótipo. No entanto, entramos com o nosso profissionalismo.”

A junção de forças é celebrada pela também advogada Carmen Lúcia Lourenço Felippe, especializada na área Criminal. Ela conta que ter encontrado o Escritório Borges & Mariano Advogadas Associadas tem feito toda a diferença sobretudo pelas histórias vividas em família. ” Aos 16, 17 anos vi todos os meus primos serem presos por um direito penal que seleciona pela cor da pele e pobreza. Eles foram encarcerados na juventude e mortos na vida adulta. É nessa situação que me perguntei o que poderia fazer para que essa realidade não se perpetuasse.”, pontua Carmen.

Para Giovana Mariano de Jesus, advogada da área de família do escritório, o grupo do escritório vai além das normas pré-estabelecidas no ramo da advocacia.

“As pessoas sempre esperam que uma advogada seja sempre uma mulher loira, branca e nós fugimos desse estereótipo. No entanto, entramos com o nosso profissionalismo. As pessoas conseguem perceber que o que importa não é cor da sua pele e sim a sua capacidade de articulação nos processos.”

A ideia de um escritório formado por advogadas pretas tem como meta tanto a permanência no mercado jurídico mas também na oferta de atendimentos jurídicos gratuitos. Além disso, diversos artistas e ONGs já fazem parte da cartela de clientes do projeto, para que a iniciativa consiga motivar pessoas.

“Inspirar novas meninas pretas que acham que porque tem que lavar,  passar, cozinhar, ajudar a mãe fazendo faxina e não vão conseguir chegar. Eu ajudei muito minha mãe, já fiz faxina e hoje estou aqui.”, destaca Andrea Nascimento, advogada e CEO do Borges & Mariano Advogadas Associadas.

Além desse objetivo, a idealizadora do projeto expressa a visão pioneira do projeto para a sociedade no país.

“A gente não tem no mercado uma advocacia preta e feminina, e a nossa pretensão não é só trabalhar para o povo preto, mas para toda a sociedade, independente da matéria do Direito.”, conclui Angela Borges Kimbangu.

+ sobre o tema

Iza faz show em live para anunciar gravidez: ‘Parece que o mundo já mudou de cor’

A cantora Iza está grávida de seu primeiro filho....

Foi a mobilização intensa da sociedade que manteve Brazão na prisão

Poucos episódios escancararam tanto a política fluminense quanto a...

Selo Sesc lança Relicário: Dona Ivone Lara (ao vivo no Sesc 1999)

No quinto lançamento de Relicário, projeto que resgata áudios...

para lembrar

Carta de repúdio ao racismo praticado na formatura de História e Geografia da PUC

Durante a tradicional cerimônia de formatura da PUC, onde...

Sociologia e o mundo das leis: racismo, desigualdades e violência

Foi com muita satisfação que recebi o convite do Justificando para...

PARANÁ: Caso de racismo leva treinador a pedir demissão no estadual

  O treinador Agenor Picinin pediu demissão do...

Ele perguntou se eu preferia maçã, conta vítima de racismo em Confins

Preso em flagrante por injúria racial, advogado terá que...
spot_imgspot_img

Quanto custa a dignidade humana de vítimas em casos de racismo?

Quanto custa a dignidade de uma pessoa? E se essa pessoa for uma mulher jovem? E se for uma mulher idosa com 85 anos...

Unicamp abre grupo de trabalho para criar serviço de acolher e tratar sobre denúncias de racismo

A Unicamp abriu um grupo de trabalho que será responsável por criar um serviço para acolher e fazer tratativas institucionais sobre denúncias de racismo. A equipe...

Peraí, meu rei! Antirracismo também tem limite.

Vídeos de um comediante branco que fortalecem o desvalor humano e o achincalhamento da dignidade de pessoas historicamente discriminadas, violentadas e mortas, foram suspensos...
-+=