Essa gente diferenciada

Por: fernanda pompeu

Machado de Assis (1839-1908) se diferenciou ao escrever com precisão e síntese numa época em que a maioria dos escribas eram prolixos, para não dizer verborrágicos. O maior mestiço da literatura brasileira se antecipou por mais de um século à escrita na internet, ao condensar informação e graça em enxutos parágrafos.

Nise da Silveira (1905-1999), contrariando os doutores da mente ortodoxos, apostou no poder curativo e solidário da expressão artística. No Hospital Psiquiátrico Pedro II, no bairro carioca de Engenho de Dentro, ela criou, no ano de 1952, o Museu de Imagens do Inconsciente. O acervo composto exclusivamente com obras dos internos.

Os jornalistas Gay Talese (1932) e Eliane Brum (1966) desafiaram editores e manuais de redação para criar estupendas reportagens. Nelas, as pessoas comuns, anônimas até, ganham o brilho de celebridades. Os dois contam histórias reais valendo-se do jeito de escrever ficção. Jornalismo e arte na mesma pena.

Gente diferenciada renderia uma lista enorme, maior do que os antigos catálogos telefônicos da cidade de São Paulo. Você mesmo, parando para lembrar, vai encontrar os diferentes na família, ou entre amigos e conhecidos.

Aquele tio que abandonou o bom emprego no Banco Central para tocar saxofone em bares noturnos. A prima que largou o marido rico para viver uma paixão com uma enfermeira pobre de Nova Jersey. O amigo que trocou a agência de publicidade – onde era infeliz, para abrir uma pastelaria na XV de Novembro – onde é mais ou menos feliz.

É nessa gente que penso, enquanto eu e meu carro congestionamos na Rua Piauí, ao lado da Praça Buenos Aires, coração do paulistano bairro de Higienópolis. Pois foi aqui que, faz um ano e pouco, a expressão gente diferenciada ganhou projeção municipal.

Tudo por conta da futura construção de uma estação de metrô. Uma senhora bem de vida, e de mal com o povo, protestou. Ela alegou que a estação atrairia essa gente diferenciada. No final, a história acabou em piada e em churrasco convocado pelas redes sociais.

Mas, já que o trânsito não desenrosca, fico olhando para os transeuntes na calçada da Piauí. Tento imaginar quantos entre eles são diferenciados. Quantos entre eles desafinam o coro dos contentes. Talvez aquela babá negra que empurra o carinho com um bebê dentro, loirinho e saltitante.

fernanda pompeu, webcronista, colunista do Nota de Rodapé, escreve às quintas a coluna Observatório da Esquina.

 

Fonte: Nota de Rodapé

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