Está na hora de Obama brigar para valer

A eleição de Barack Obama despertou grandes esperanças nos Estados Unidos e em todo o mundo.

Hoje, enquanto seus índices de aprovação caem constantemente bem abaixo de 50%, surge a questão de por que os eleitores americanos se sentem tão abandonados por ele.
Ele não aprovou legislações notáveis para o estímulo econômico, o seguro-saúde e a reforma bancária? E ele poderia realmente ter mais êxito, diante da profundidade da crise econômica e do poder republicano de bloquear as leis usando a obstrução no Senado?

Se os democratas perderem um número significativo de assentos legislativos em novembro, como se espera, a capacidade de Obama em influenciar a agenda americana será muito reduzida, e ele enfrenta a possibilidade de perder a Presidência quando disputar a reeleição em 2012.

Em uma recessão profunda, os eleitores tendem a culpar o partido no poder. Na política americana, o melhor indicador isolado de sucesso político é o índice de desemprego.

Por exemplo, Ronald Reagan foi eleito avassaladoramente em 1980, mas, durante a recessão de 1982, seu partido perdeu assentos nas duas casas. George Bush pai foi rejeitado em 1992, durante uma crise bastante mediana.

Mesmo sem recessão, um presidente recém-eleito geralmente consegue levar membros de seu partido à Câmara e ao Senado. Então, quando a lua de mel se desgasta, a oposição quase sempre recupera alguns assentos na primeira eleição para o Congresso, dois anos depois.
Com o desemprego estagnado perto de 10%, seria um milagre se a popularidade de Obama não declinasse. Mas já ocorreram tais milagres na história política americana.
Em 1934, dois anos depois da eleição de Franklin D. Roosevelt para presidente, os democratas aumentaram sua maioria legislativa, apesar de um índice de desemprego que estava bem acima de 15%.

Como isso foi possível? As pessoas achavam que as condições econômicas estavam melhorando e que Roosevelt estava inegavelmente do seu lado. Elas não têm tanta certeza sobre o atual presidente.

Obama teria sido um tanto intimidado pelos obstáculos constitucionais ao ativismo presidencial, não importa que rumo ele escolhesse. Mas sua decisão mais fatal foi não governar como Roosevelt, como o carrasco de Wall Street e o defensor do americano comum, fazendo os eleitores duvidarem sobre onde estão suas lealdades.

Obama começou nomeando uma equipe econômica liderada por defensores da desregulamentação financeira da era Bill Clinton -Lawrence Summers e Timothy Geithner. Ambos tinham trabalhado amigavelmente com a equipe de George W. Bush durante a transição e essencialmente mantiveram a política de apoiar os grandes bancos em vez de mudar drasticamente seu modelo de negócios.

Consequentemente, os eleitores não viram a “mudança” que Obama havia prometido, e as políticas econômicas que causaram o colapso persistiam.

Wall Street se recuperou, enquanto a “main street” perdia vigor, e os republicanos e os ativistas do movimento ultraconservador Tea Party se apropriaram de pelo menos uma parte da revolta popular. Mas nenhum partido parecia falar pelo homem e pela mulher comuns.

Obama também nomeou gaviões do deficit, como seu primeiro diretor de orçamento, Peter R. Orszag. Apesar de as pesquisas de opinião pública mostrarem que os eleitores comuns estão mais preocupados com os empregos do que com os deficit, Obama entrou na parada da austeridade adorada por Wall Street, muito antes de a economia estar fora de perigo, enviando mais sinais confusos.

Por temperamento, o presidente é um conciliador, e não um lutador. Às vezes essa é uma posição construtiva -exceto quando não há um terreno comum com um partido de oposição decidido a destruí-lo.

Mesmo que um programa econômico mais abrangente destinado a ajudar a classe média fosse derrubado pelos republicanos, Obama poderia ter-se saído melhor ao propô-lo e lutar por ele. Essa foi a estratégia do presidente americano Harry S. Truman (1945-53), que foi dado como perdido em 1948.

Truman enviou ao Congresso vários projetos de lei naquele verão, sobre empregos, habitação, assistência à saúde e educação, sabendo que os republicanos os derrubariam. Então, ele disputou a reeleição como porta-voz do americano esquecido, atacando os obstrucionistas republicanos com o slogan “Dê-lhes o diabo, Harry”. Truman venceu o maior embate da história política americana, e os democratas conseguiram 75 cadeiras na Câmara.

No colégio e na faculdade, o apelido de Barack Obama era Barry. Talvez esteja na hora de um “Dê-lhes o diabo, Barry”.

Robert Kuttner é coeditor de “The American Prospect”, membro sênior do grupo de pensadores Demos e acaba de publicar o livro “A Presidency in Peril”

Fonte: Folha

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