Estudantes do Congo acusam Brigada Militar de racismo no Rio Grande do Sul

Africanos acusam BM de racismo e constrangimento

por Jessica Gustafson

Segundo Krischke, já foi solicitada a fita da gravação feita pela câmera existente dentro do ônibus

De acordo com o Censo Demográfico feito pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em 2010, 43,1% da população brasileira é negra. Entretanto, mesmo com um grande número de habitantes afrodescendentes, o preconceito ainda é grande no País. Na tarde desta quinta-feira, o presidente do Movimento de Justiça e Direitos Humanos (MJDH) do Rio Grande do Sul, Jair Krischke, divulgou para a imprensa o caso de dois estudantes africanos que dizem ter sido vítimas de racismo por parte da Brigada Militar (BM) em Porto Alegre.

No dia 17, Tibulle Sossou, natural da República do Benin, e Sagesse Kalla, da República Democrática do Congo, se dirigiam à sede da Polícia Federal para realizar os trâmites de seus vistos de permanência no Brasil, na linha Campus-Ipiranga, quando o ônibus foi interceptado por três carros e uma motocicleta da Brigada Militar. “Estávamos conversando em francês dentro do ônibus e uma policial, que estava no coletivo, ficou nos olhando, principalmente para os nossos tênis. Ela pegou o celular e chamou as viaturas”, relata Kalla.

Os africanos, que vieram estudar português e fazer faculdade no Estado, foram levados para fora do veículo pela policial, que apontava uma arma para os dois. Após a revista, na qual não foi encontrado nenhum material ilícito, Kalla e Sossou foram algemados e levados para o posto da Redenção, que pertence ao 9º Batalhão da Brigada Militar. “Durante a abordagem, fui agredido com uma ‘gravata’ e dois socos na nuca. Nunca ninguém tinha apontado uma arma para a minha cabeça, eu fiquei triste e com muita vergonha. Muita gente passava e ficava olhando”, diz Sossou. Segundo ele, no posto, os dois foram soltos e mandados embora sem nenhum pedido de desculpa. “Um policial ainda falou que isso aconteceu porque somos negros e que esse tipo de abordagem é comum no Brasil“, complementa.

O presidente do MJDH afirmou que como medida contra a ação, ambos registraram ocorrência policial e fizeram um registro na Corregedoria da BM. “Foi uma manifestação expressa de racismo, abuso de autoridade e constrangimento ilegal. A polícia age assim com qualquer negro, seja brasileiro ou estrangeiro. Precisamos dar um basta no despreparo da Brigada”, enfatiza. Segundo Krischke, já foi solicitada a fita da gravação feita pela câmera existente dentro do ônibus. O presidente também avisa que levará o caso até o secretário de Segurança Pública do Estado, Airton Michels.

A BM explica que o 9º Batalhão já está fazendo o levantamento da ocorrência. “Será instaurado um inquérito para averiguar esta notícia-crime praticada pelos policiais. O inquérito, depois de concluso, será encaminhado para o Ministério Público do Estado e poderá se transformar em um processo”, afirma o comandante do Comando de Policiamento da Capital, coronel Atamar Cabreira Filho.

 

Fonte: Jornal do Comercio

+ sobre o tema

Denise Assunção, artista indomável e indestrutível

Conheci Denise Assunção na cena underground do Bixiga dos...

Justiça decreta prisão preventiva de PM que atingiu jovem em São Paulo

O policial militar Tiago Guerra foi preso em flagrante...

Investigação aponta para suposto crime de racismo

FLORIANÓPOLIS - O Ministério Público Federal (MPF) avalia...

para lembrar

Artigo: Violência contra a mulher não pode ser banalizada

No último Dia dos Namorados, circulou, nas redes sociais,...

E essa cara de pobre, minha filha? É pra te olhar melhor!

Fiquei com uma fala na cabeça de uma mulher...

Editor acusado de injúria racial na Flip se afasta de cargo na PUC-SP

José Luiz Goldfarb, diretor da Educ, nega a ofensa...
spot_imgspot_img

Justiça para Herus, executado em festa junina no Rio

Não há razão alguma em segurança pública para que Herus Guimarães Mendes, um office boy de 23 anos, pai de uma criança de dois...

Em tempos de cólera, amor

Planejei escrever sobre o amor numa semana mais que óbvia. Eu adoro esta data capitalista-afetiva que é o Dia dos Namorados. Gosto que nossa...

Lula sanciona lei de cotas para negros em concurso e eleva reserva de vagas para 30%

O presidente Lula (PT) sancionou nesta terça-feira (3) a prorrogação da lei de cotas federais, que passa a reservar 30% das vagas para pretos e pardos em concursos...
-+=
Geledés Instituto da Mulher Negra
Privacy Overview

This website uses cookies so that we can provide you with the best user experience possible. Cookie information is stored in your browser and performs functions such as recognising you when you return to our website and helping our team to understand which sections of the website you find most interesting and useful.