Eugenia, o racismo que unificou esquerda e direita

Em 14 de julho de 1933, uns meses após a chegada ao poder de Adolf Hitler, o regime nazista promulgava a lei da eugenia. Não por acaso, no mesmo dia em que proibia a existência de outros partidos políticos que não o nazista. A nova norma autorizava a esterilização forçada de todas as pessoas que padeciam de transtornos mentais, cegueira, surdez, alcoolismo ou mal formação. Mais de 400.000 pessoas foram esterilizadas.

Por  Mário Sérgio Lorenzetto, do  Campo Grande News

Símbolo da Eugenia. (Imagem retirada do site Campo Grande News )

Mas a tragédia do genocídio nazi não pode desviar a atenção de quais foram as verdadeiras origens das “políticas de higiene racial”. Elas foram levadas a muitos países ocidentais e chegaram ao Brasil. A legislação nazista, aliás, se inspirou no modelo dos Estados Unidos.

A origem dessa barbárie remonta a 1883, quando o britânico Francis Galton, usava o termo “eugenia”para encaminhar as práticas “para aumentar a qualidade genética da humanidade”. Galton pretendia basear-se nas teorias de seu parente, Charles Darwin, para propor a existência apenas de homens sem “taras genéticas”. Ainda que o próprio Darwin havia se oposto a essas ideias, Galton capturou o interesse de boa parte da comunidade científica, dos progressistas e da esquerda.

Francis Galton, criador da eugenia. (Imagem retirada do site Campo Grande News )

A eugenia na esquerda.

Não era raro encontrar entre os promotores da eugenia os intelectuais de esquerda como Bernard Shaw ou o biólogo e socialista H.G.Wells. Praticamente todos os socialistas fabianos – ramo da esquerda inglesa até os dias atuais – eram favoráveis à eugenia. Eles acreditavam que assim conseguiriam “melhorar a saúde e vitalidade da nação e do seu povo”. O movimento em favor da eugenia foi largamente aceito pela classe média e intelectuais em geral. Consideravam a melhor maneira de promover a saúde da população. Exigiam certificados de saúde sexual, permissão para o matrimônio não ocorrer entre pessoas de raça diferente e justificavam perseguições a grupos de pessoas considerados indesejáveis, como os homossexuais.

A direita e o centro aderem à eugenia.

Proeminentes políticos como Theodore Roosevelt ou Winston Churchill defenderam a causa da eugenia. John Maynard Keynes defendia o liberalismo na economia, a criação da previdência social e uma coisinha a mais: a eugenia. Keynes, o homem que enterrou o laissez-faire do fim do século XIX, foi diretor da Sociedade Eugênica Britânica.
Mas, ainda mais atroz foi a prática da eugenia, à partir de 1907, nos Estados Unidos. Essa data marca a lei de Indiana, nos EUA, que determinava a esterilização de “criminosos, idiotas, imbecis e estupradores”. Essa lei foi copiada no Japão, Canadá, Escandinávia e na Austrália.
Concretamente, os EUA foram pioneiros nessas medidas. Em 1914, pelo menos 12 Estados possuíam leis que tornavam a esterilização obrigatória. O grupo a ser esterilizado era composto por: “enfermos mentais, pessoas com incapacidade física ou mental, criminosos, agressores sexuais e homossexuais”. Também foram celebrados concursos onde premiavam as famílias “mais aptas”. Todas as feiras e mercados exibiam cartazes com os dizeres “algumas pessoas nascem para ser uma carga para os demais”. Calculam que foram esterilizadas mais de 60.000 pessoas nos EUA.

Documento assinado por Roosevelt apoiando a eugenia.  (Imagem retirada do site Campo Grande News )

O Brasil abraça a eugenia.

Largos setores da intelectualidade e dos políticos brasileiros aderiram à eugenia. Publicaram grande número de livros, teses acadêmicas, e artigos em jornais e revistas de grande circulação. Também criaram um periódico próprio – o Boletim da Eugenia. O sonho deles era o “branqueamento” da população. Os três maiores nomes da eugenia brasileira foram Miguel Couto, Roquette Pinto e Monteiro Lobato.

Concurso Família Mais Apta nos EUA. (Imagem retirada do site Campo Grande News )

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