Europeu na Ucrânia, o problema do racismo e dos ‘estádios no meio do nada’

Por Diogo Pombo

O estádio da cidade de Carcóvia, na Ucránia, com capacidade para cerca de 38 mil espectadores

A família de Theo Walcott, extremo do Arsenal que ontem viu confirmada a sua presença no Euro, não vai apoiá-lo, a ele e à selecção inglesa, por temer insultos racistas na Ucrânia. Este receio acresce à polémica que já paira sobre o país, face ao caso de Iulia Timochenko, ex-primeira-minista ucraniana que continua detida pelas autoridades.

Timochenko está confinada pelas autoridades desde Agosto de 2011, altura em que foi condenada a sete de prisão por abuso de poder, numa decisão judicial que sempre considerou ser uma vingança pessoa por parte de Viktor Ianoukovitch, presidente do país contra quem concorreu, nas eleições de há dois anos.

Na passada semana, várias nações europeias chegaram a ameaçar boicotar o Euro 2012 face à greve de fome, que a antiga líder promoveu entre 20 de Abril e 9 de Maio, em protesto contra alegados abusos físicos dos guardas prisionais.

A tomada de posição de alguns países – rejeitada por Portugal -, abalou a imagem da Ucrânia a menos de um mês do início do Europeu. Agora, do mesmo modo, outra notícia não abonará a favor da imagem ucraniana: o receio em torno de eventuais abusos racistas no país.

O medo real

Foi este receio que levou a o pai e irmão de Theo Walcott, de cor de pele negra, a decidirem que não irão apoiar o jogador e a selecção inglesa à Ucrânia. «Não vamos viajar por causa do medo de possíveis confrontos e ataques racistas», confirmaram ao Daily Telegraph.

Ambos preferiram assistir às partidas pela televisão e expressar o seu apoio ao jogador inglês de outra forma, mais distantes. «Há coisas que não valem a pena o risco», sintetizou assim Ashley, irmão de Theo Walcott, antes de lançar uma questão: «Porquê realizar uma competição desta magnitude num sítio que não se consegue policiar, para que os estrangeiros se sintam seguros?».

O diário britânico ainda notícias lançadas pela Sky, uma cadeia de televisão britânica, durante esta semana, ao dar conta de alegados planos que estarão a ser fabricados por grupos neo-nazis em Donetsk, cidade ucraniana cujo estádio vai acolher vários encontros durante o campeonato europeu.

O próprio Roy Hodgson, seleccionador inglês, abordou o risco. «Não há dúvida que o tema do racismo e violência na Ucrânia é uma óbvia preocupação para nós, relativamente aos adeptos que se arriscam a ser espancados se por acaso não forem brancos», explicou.

«Estádios no meio do nada»

Em Fevereiro, um estudo da Feferação Internacional dos Futebolistas Profissionais (FIFpro), concluíra que mais de 10% dos jogadores a actuar no futebol europeu tinha confessado já ter sido alvos de comportamentos racistas.

Em Abril, o secretário-geral do organismo, Theo Van Seggelen, revelava as suas preocupações quanto ao risco de racismo para os adeptos que se deslocariam à Polónia e à Ucrânia, este Verão, para apoiarem as suas selecções durante o Europeu.

«A Ucrânia será muito difícil para os adeptos», começou por referir à BBC, antes de explicar a sua posição: «Penso que este torneio não será lembrado pela sua atmosfera, isso para mim é 100% certo». As suas preocupações não se ficaram por aqui, e demonstrou isso através de exemplos.

«O jogo entre a Holanda e a Alemanha será disputado no estádio mais pequeno da Ucrânia, no meio do nada», lembrou, na altura, ao referir-se à arena de Cracóvia – onde o Sporting jogou com o Metalist, em Abril, para a Liga Europa -, com capacidade para cerca de 38 mil pessoas.

«O futebol são os adeptos, como é possível que este tipo de jogos, que são o destaque da prova, sejam jogados em estádios no meio do nada?», questionou. Com ou sem uma resposta à altura, certo é que Portugal também jogará no estádio de Cracóvia – será a 17 de Junho, no último encontro português na fase de grupos, frente à selecção holandesa.

 

 

 

Fonte: Sol 

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