Minha reflexão em relação ao assunto: não é possível que o direito das mulheres seja tão tabu a ponto de ser rotulada só por defender uma vítima (ou todas) de forma aleatória.
Não fiquei ofendida! Sou grata por nunca ter passado por um estupro. Mas fiquei triste, porque se falar sobre o assunto é tão complexo que as pessoas perdem o foco do tema central, como poderemos ter a igualdade defendida?
Em tempo: falei com essas colegas e expliquei que não fui vitima de violência.Não é preciso ser vítima para ser contra. Enquanto só as vítimas gritarem (isso quando gritam, a maioria se cala) e o resto do mundo se calar, sempre teremos vitimas e mais vítimas!
Lola, estou te contando isso para que você saiba como mudou minha vida! Hoje eu tenho OPINIÃO! De novo: obrigada!
Meu comentário: Essas associações são ridículas mesmo, G.! Não falar de estupro é sem dúvida uma estratégia de calar — não o crime em si, mas as sobreviventes. Contribui para a espiral de silêncio em torno do tema, e este silêncio contribui para que o estupro não seja combatido como se deve.
Vez por outra algum machista fica revoltado (não com os casos de estupro, e sim com a nossa insistência em falar deles), e pergunta, exaltado: “Por que feminista fala tanto de estupro? Elas todas foram estupradas? Ou será alguma fantasia?” Geralmente esses “questionamentos” vêm acompanhados de “Quem iria querer te estuprar?!”, provando, mais uma vez, como são ignorantes.
Eles realmente acham que estupro é um desejo incontrolável de um homem ao ver uma mulher! Assim: só mulheres dentro do padrão de beleza são estupradas!Nunca se ouviu falar de meninas de oito anos estupradas! Nem de velhinhas de 80 ! Mulher gorda de qualquer idade ser estuprada, nem pensar! Homens hétero estuprarem homens? Jamais! Não, estupro é só o que acontece quando um homem não consegue frear seus instintos naturais. E depois nós feministas é que somos acusadas de dizer que homens são estupradores em potencial!
A gente fala tanto em estupro porque estupro é uma praga na nossa sociedade, ué. Porque existem pouquíssimas mulheres (mulheres, não feministas — nem toda mulher é feminista, nem todx feminista é mulher) que não tenham uma história de horror pra contar. Nem todas as mulheres foram estupradas, mas aameaça de estupro é uma constante na vida de toda mulher. E todo mundo deveria combater o estupro. Infelizmente, tem homem que só quer falar de estupro se é pra fazer piadinha de estupro…
Mas este adendo é mais pra falar sobre misoginia. É que prometi pra Rosana Hermann explicar o que é misoginia na primeira vez que usasse o termo no ano.Porque, segundo ela, muita gente está usando a palavra indevidamente, o que a torna ultrapassada:
Eu discordei, claro. Precisamos de palavras para descrever o que vemos. Este é um princípio básico da linguagem. E, se a misoginia continua firme e forte, obviamente precisamos de um termo que a defina. Mas, nos últimos tempos, misoginia tem deixado de ser exclusivamente o que suas raízes fazem significar (ódio contra as mulheres) para se tornar quase um sinônimo de um machismo mais violento, vamos dizer assim.
O que misoginia não é: ser rude com uma mulher ou chamá-la de burra não é necessariamente misoginia. Assim como não é racismo chamar um negro de, sei lá, “barbeiro” no trânsito. Se você chama alguém de estúpida por ela ser mulher, aí sim pode ser considerado misoginia (embora eu prefira o termo machismo ousexismo nessa situação mais light).
Eu gosto mais das graduações. Algo como: machismo é a teoria, misoginia é quando se coloca a teoria em prática. Mas reconheço que essa definição é limitada, porque misoginia não precisa ser física.