‘Família negra e feliz’ provocou reações fortes, diz diretor do Boticário

Comercial do Dia dos Pais do Boticário com família negra. (YouTube/Reprodução)

Alexandre Bouza afirma que comercial não queria discutir questão racial –’Para nós era assunto superado’ – e celebra número de likes – ‘Estão do nosso lado’

Comercial do Dia dos Pais do Boticário com família negra. (YouTube/Reprodução)

Alexandre Bouza, diretor de Marketing do Grupo Boticário, levou um susto com a repercussão do comercial da empresa para o Dia dos Pais. A propaganda, que faz uma brincadeira com as dificuldades dos pais em falar a linguagem dos filhos, provocou uma guerra de comentários, e, em dez dias, tornou-se o comercial mais assistido no canal da empresa paranaense no Youtube, com mais de sete milhões de visualizações, 122 mil reações positivas e 18 mil reações negativas. “Não esperávamos até porque já fizemos outros comerciais com protagonistas negros e não houve nada parecido.”

Bouza acredita que o caráter documental do comercial pode ter feito diferença. Para ele, parte do público “estranhou” ver uma família negra, bem estruturada e feliz.

Como surgiu a ideia de fazer o comercial para o Dia dos Pais? A gente dedica bastante tempo e atenção para as datas importantes do Varejo. Sempre buscamos trazer novidades. A gente tentou exercitar um formato novo de comunicação no estilo “mockumentoring”, que é uma pessoa falando diretamente para a câmera. Parece quase um documentário. E a ideia criativa para esse ano era passar a mensagem dos pais que muitas vezes tentam falar a linguagem dos filhos e falar das coisas deles e acabam passando por situações engraçadas e até constrangedoras. Mas no final os filhos acabam reconhecendo o esforço dos pais nesse sentido.

E como foi perceber as reações negativas ao vídeo? A gente está acostumando a trabalhar esse tipo de campanha. Tentamos alcançar um público bastante amplo e de maneira democrática. Já trouxemos relação homoafetiva, a relação de uma mulher mais madura com um homem mais novo. Nisso algumas campanhas são melhores ou piores sucedidas com o público. Natural. Essa em particular nos impressionou muito. Não é a primeira vez que trazemos protagonistas negros nas nossas campanha. Estamos trazendo sempre mais diversidade. A campanha de Dias das Mães de 2017 tinha como protagonistas uma mãe e uma filha negras. A campanha do Malbec no final do ano passado tinha um casal negro. Não é a primeira vez. A gente acaba vendo isso como uma coisa absolutamente natural. Mas agora vimos uma reação muito forte. Não era nossa intenção nem levar qualquer discussão [racial] porque para nós isso deveria estar absolutamente superado.

Mas o que explica as reações de agora? Essa é uma coisa que tem de ser perguntada. Acho que o próprio estilo da campanha, mais documental, que imprime realidade maior, pode explicar. Você tem uma sensação de que é uma família de verdade, com os seus revesses e alegrias. Ao retratar família negra com esse grau de realismo, e, eventualmente uma família negra feliz e dentro de um ambiente bacana, isso precipitou reações mais fortes. Sinceramente não tenho nenhuma impressão mais concreta ou mais analítica. É mais uma impressão nossa do que a gente vê, que são muitos comentários invasivos. Essa não era uma campanha que trazia negros e brancos, aquelas campanhas multirraciais que também têm seu papel. Mas aqui é uma família brasileira comum, como tantas outras que a gente vê na rua e, de repente, isso é considerado diferente por uma faixa do público.

No final as reações positivas foram maiores? Com certeza. Vamos pegar o número atual [Desta sexta-feira,3]. Em uma semana estamos com 7,8 milhões de visualizações , com 122 mil likes contra 18 mil dislikes. Ficamos felizes de saber que maioria esmagadora das pessoas concorda com nosso posicionamento. Estão do nosso lado.

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