Estudantes têm 72 horas para comprovar o direito às vagas no sistema de cotas para negros
A comissão responsável por investigar a denúncia de fraudes no sistema de cotas para negros e indígenas da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), no Rio Grande do Sul, recomendou o desligamento de 24 dos 27 alunos denunciados. A decisão da primeira etapa do processo de investigação foi comunicada ontem para a coordenação do curso, encarregada de notificar os alunos.
Os estudantes têm agora 72 horas para entrar com recurso da decisão com documentos que possam comprovar o direito às vagas. Os recursos serão avaliados pelas bancadas que compõem a comissão de investigação e, em três semanas, deve ser emitida a decisão final.
— Queremos dar uma resposta exemplar para a sociedade. Estamos sendo rigorosos com a autodeclaração dos candidatos que ingressaram entre 2013.2 e 2016.1, mas dando direitos para que essas pessoas tragam elementos para a tomada de decisão definitiva — explica Rogério Reus Gonçalves da Rosa, da Coordenação de Ações Afirmativas e Políticas Estudantis (Cape) e líder da comissão.
Três alunos foram inocentados da denúncia por apresentarem, de acordo com Rosa, aspectos como característica fenotípica, ancestralidade, trajetória de vida marcada por discriminações e sociabilidade à matriz negra e parda relacionada à família.
RESULTADO DO RACISMO
Georgina Nunes, chefe do Núcleo de Ações Afirmativas e Diversidade (Nuaad) e membro da comissão investigativa, alerta que casos como esse não significam que as políticas de cotas estão dando errado. Para ela, esses episódios são resultado do racismo que existe no Brasil.
— Pelo discurso hegemônico desses jovens, se observa o quanto é difícil para a população branca dividir alguns privilégios. Quando os alunos falam que vão ocupar essas vagas para negros e indígenas e não se reconhecem como tais, eles têm certeza da sua superioridade perante esses grupos — analisa.
De acordo com Georgina, o coletivo Setorial de Negros e Negras, ligado a UFPel e responsável por levar as suspeitas de fraude ao Ministério Público Federal (MPF), pediu que se faça uma revisão das vagas destinadas à cotistas desde 2013.
— Outros alunos que não passaram pela comissão por terem ingressado na UFPel pelo Programa de Aceleração da Vida Escolar (Pave) foram chamados e ficou constatado que eles estão fora do perfil. Cabe à universidade fazer o controle da política e por isso não esperaremos mais denúncias para agir — avalia.
O frei David Santos, coordenador da ONG Educafro, comemorou o resultado da primeira fase do processo de investigação da denúncia.
— Entendemos que o que a UFPel está fazendo deve ser repetido por todas as universidades federais porque a fraude também está acontecendo em outras instituições — afirma.