Feito de francês reacende debate sobre supremacia negra nas pistas

O francês Christophe Lemaitre se tornou, no início do mês, o 72º homem na história a correr os 100m rasos em menos de 10 segundos. Pode parecer um feito sem importância, mas não é. Em uma prova dominada por atletas negros, ele é o 1º branco a chegar à marca.

 

“OBJETIVO SÃO TÍTULOS, NÃO MARCAS”

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    O fato de ser o primeiro branco a correr os 100m rasos abaixo dos 10s – ou o primeiro atleta sem descendência africana a conquistar o título europeu da prova em 28 anos – virou um fardo para Christophe Lemaitre. Segundo ele, mais importante do que a cor de sua pele são seus resultados na pista. 

    “É muito melhor conquistar um título do que fazer determinada marca. Hoje, por exemplo, estou muito mais feliz por ter sido campeão europeu do que por ter corrido abaixo dos 10s”, disse o sprintista. “Vou me concentrar em ser campeão. Não em recordes”.

    Lemaitre começou tarde no esporte, só começou a treinar em 2005, quando já tinha 15 anos. Hoje, ainda divide a carreira nas pistas com a faculdade de engenharia elétrica. Mesmo assim, é tratado como o futuro dos velocistas na Europa. 

    “Ele é a melhor notícia que aconteceu para as provas rápidas no continente. Espero que sirva para mais garotos passarem a acreditar em seu potencial”, disse o veterano Dwain Chambers, quarto colocado na final do Europeu.

Ele venceu o Campeonato Francês no dia 9 de julho com 9s98. Depois disso, se tornou o atleta mais rápido da Europa: na última quarta-feira, venceu os 100m do Europeu de Barcelona, com 10s10 – correu 10s06 na semifinal.

A performance de Lemaitre reascendeu a discussão sobre o motivo do domínio negro em provas de velocidade. O livro “Taboo: Why Black Athletes Dominate Sports and Why We’re Afraid to Talk About It”, de Jon Entine, já discutiu o tema. No Brasil, as opiniões se dividem.

Robson Caetano, o único brasileiro a alcançar a marca, não concorda com a explicação genética. “Eu concordo que os negros têm uma vantagem, mas não concordo que a diferença de resultados seja pela diferença física. Eu acredito muito no treinamento. Se alguém se esforçar, e tiver as ferramentas para isso, consegue chegar a esse nível. É uma explicação muito mais cultural do que genética”.

“O atletismo é o esporte mais democrático que existe, porque não exige nenhum implemento para sua prática. Se fosse o fator genético, os negros não dominariam todas as provas, de velocidade, passando pelo meio-fundo e as provas de fundo. É uma questão de oportunidade”, completa o medalhista olímpico.

Técnico de atletismo, Katsuhico Nakaya discorda. “É uma condição genética. Os negros são privilegiados porque, em sua constituição, tem mais fibras rápidas. É claro que existem exceções e Lemaitre é um desses casos”, afirma Nakaya, que rejeita o fator social. “Não acredito em fator social. Se fosse assim, nos países de 1º mundo, teríamos uma igualdade maior nas equipes entre brancos e negros. Mas nas provas de velocidade, o predomínio negro é maior”, completa o treinador.

Para especialistas, a explicação é uma combinação dos dois fatores. “Existem estudos que apontam que a predominância de fibras rápidas na estrutura muscular dos negros é mais intensa do que nos bancos. Essa disposição genética ajuda a explicar a razão para que os negros dominem determinadas provas, mas não podemos esquecer o aspecto cultural e social. Você tem de levar em conta, também, o ambiente de aprendizagem do esporte. Se o Pelé tivesse nascido no Alasca, ele seria pescador, não jogador de futebol. A cultura, o ambiente, empurram as pessoas para determinada modalidade. Acho que é a junção dos dois aspectos”, analisa João Paulo Medina, especialista em preparação física.

Os 200m rasos

Nesta sexta-feira, Christophe Lemaitre teve outra chance de se aproximar da elite dos velocistas do planeta e não desperdiçou a oportunidade. Ele venceu os 200m, outra prova dominada por descendentes de africanos, com o tempo de 20s37. O britânico Christian Malcolm (um centésimo atrás) ficou com a segunda colocação. Outro francês, Martial Mbandjock, fechou o pódio da prova.

Campeão mundial juvenil da distância em 2008, o francês é o 93º mais rápido da história na prova mais longa. Apesar do domínio dos atletas de origem africana não ser tão grande, ainda assim atletas caucasianos, como Lemaitre, são minoria absoluta. O italiano Pietro Mennea (8º, com 19s72), o grego Konstadinos Kenteris (17º, com 19s85) e o polonês Marcin Urbas (35º com 19s98) são os únicos no top-40.

Fonte: UOL 

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