Festival da mulher negra pauta combate ao racismo na comunicação

Consolidado como o maior festival da mulher negra da América Latina, o Latinidades, nascido em 2008, chega à 9ª edição e traz como tema para este ano a Comunicação e o combate ao racismo nos meios midiáticos, sejam eles empresariais, públicos, alternativos ou independentes. O festival começa na segunda-feira (25) e segue até dia 30, sábado, no Museu Nacional da República (Esplanada dos Ministérios). O início do evento tem como marco o Dia da Mulher Afro-Latino-Americana e Caribenha. A entrada é franca e a programação recheada com música, dança, teatro, literatura, formação, capacitação, empreendedorismo, economia criativa e comunicação.

Do CUT

“O tema de 2016 foi escolhido a partir do entendimento de que a sociedade e o Estado brasileiro têm uma grande dívida histórica no que diz respeito ao fortalecimento e à valorização da história e cultura negra e suas manifestações tradicionais, no campo e na cidade”, afirma a organização do evento. Vários estados e também outros países realizam o festival que tem caráter cultural-formativo.

Segundo a organização do Latinidades, o objetivo central do festival é abordar a visibilidade (ou a falta dela) das mulheres negras e sua representação em todos os espaços. “Nos meios de comunicação, por exemplo, esta representação tem se dado de forma predominantemente discriminatória”, esclarece. Por este motivo, nesta 9ª edição, a intenção é “se apropriar de quantas ferramentas e espaços midiáticos sejam possíveis: dos grandes e tradicionais meios de comunicação aos independentes; da tradição oral; da tv e do rádio ao carro de som; das redes sociais atuais ao fanzine; sem desconsiderar o famoso correio-nagô, o boca-a-boca/buxixo”.

Informações da Fundação Cultural Palmares mostram que a população de origem negra corresponde a 53% dos brasileiros. Mesmo assim, o segmento ainda luta para eliminar desigualdades e discriminação. São cerca de 97 milhões de pessoas oprimidas e sub-representada no Legislativo, Executivo, Judiciário, na mídia e em outras esferas. “Em se tratando do gênero, o abismo é ainda maior”, afirma a Fundação, se referindo às mulheres negras.

Ato na Rodô do Plano
A primeira atividade da programação do Latinidades será na Rodoviária do Plano Piloto. O ato está marcado para ter início as 19h de segunda-feira (25). Na dinâmica, está programada uma lavagem das escadarias da Rodoviária, realizada por baianas. A mística representa a abertura de caminhos para o início do evento e a viabilização do atendimento da pauta proposta pelo Latinidades. Também haverá intervenções culturais, com música, poesia e outras ações.

Durante a semana, participarão do festival intelectuais, jornalistas e produtores culturais que realizarão debates. Entre eles, estão Luciana Barreto (Repórter Brasil Tarde/TV Brasil), Maíra Azevedo (Jornal A Tarde – BA), Hendi Mpya (África do Sul), Djamila Ribeiro (Secretaria de Direitos Humanos e Cidadania de São Paulo), Sueli Carneiro (Geledés Instituto da Mulher Negra), Eliane Dias (Boogie Naipe/Racionais MC’s), Jean Yves Bassangna (Camarões) e Monique Evelle (Desabafo Social).

Na sexta-feira (29), será realizada conferência com a norte-americana Kimberlé Crenshaw, uma das mais reconhecidas intelectuais negras da atualidade. Seu trabalho inovador chegou a influenciar a elaboração da cláusula sobre equidade presente na Constituição sul-africana.
Também estão na programação atividades para crianças, oficina de turbantes, cinema e vários shows. Confira aqui a programação completa.

A data
O Dia da Mulher Afro-Latino-Americana e Caribenha foi criado em 25 de julho de 1992, durante o I Encontro de Mulheres Afro-Latino-Americanas e Afro-caribenhas, em Santo Domingos, República Dominicana.

No Brasil, a presidenta Dilma Rousseff sancionou em 2014 a Lei nº 12.987/2014, que celebra o Dia Nacional de Tereza de Benguela e da Mulher Negra. Segundo a Fundação Cultural Palmares, Tereza de Benguela foi uma líder quilombola, viveu durante o século 18. Com a morte do companheiro, ela se tornou a rainha do quilombo e, sob sua liderança, a comunidade negra e indígena resistiu à escravidão por duas décadas, sobrevivendo até 1770, quando o quilombo foi destruído pelas forças de Luiz Pinto de Souza Coutinho e a população (79 negros e 30 índios), morta ou aprisionada.

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