Festival de Verão aborda segregação racial e virtualização das relações na adolescência

Temas foram discutidos por psicólogas em atividade que inaugurou ciclo de rodas de conversa do evento

Por Matheus Espíndola, do UFMG

Helena Greco e Áquila Bruno: adolescência em perspectiva  (Foto: Raphaella Dias / UFMG)

Na tarde desta segunda-feira, dia 3, a discussão sobre Saúde mental e juventude virtual: gênero, raça e subjetividades inaugurou o ciclo de rodas de conversa que compõe a programação do Festival de Verão UFMG. A atividade, apoiada na interação com o público, foi conduzida pelas psicólogas Áquila Bruno e Helena Greco.

“Hoje, no Brasil, o suicídio está entre as quatro principais causas de morte entre jovens e adolescentes, sendo que 60% das vítimas são negros”, introduziu Áquila Bruno. Sua exposição se propôs a discutir as causas do suicídio e convidar o público a pensar caminhos para “positivar as experiências enquanto sujeitos negros”. “O sofrimento tem relação com o isolamento, as vulnerabilidades sociais e o racismo estrutural”, argumentou.

Áquila Bruno repercutiu relatos de integrantes do coletivo de mulheres Alzira Reis, idealizadoras de campanha que denuncia atos de racismo e misogenia. “As violências que tecem nossas trajetórias podem nos fazer adoecer. É preciso refletir sobre isso e pensar tecituras saudáveis para nossas histórias de vida”, defendeu.

Internet menos devastadora

A relação dos adolescentes com a virtualidade, com ênfase nas transformações que a internet provocou nos conceitos de tempo e espaço, foi o mote da discussão suscitada por Helena Greco. Em sua palestra, a psicóloga problematizou a influência das comunicações digitais para a constituição psíquica do adolescente.

“Todas as relações de hoje em dia passam pela internet: família, escola, namoro e sexo. É necessário pensar em como adolescentes e jovens lidam com isso”, provocou. Helena Greco lembrou que os adolescentes recorrem cada vez mais à internet para resolver todos os impasses da adolescência. “É corriqueiro que percam a coragem de conversar ‘ao vivo’ e o hábito de frequentar as ruas. Precisamos encontrar um uso menos devastador para a internet”, alertou.

Aquila Bruno é psicóloga pela UFMG e professora do Departamento de Educação da Ufop. É especialista em Saúde da Família pela PUC Minas e mestre em Educação pela UFMG.

Helena Greco é psicóloga clínica, integrante do laboratório de pesquisa Além da Tela: subjetividade e cultura digital e do programa Brota!, vinculados à UFMG. É graduada em Psicologia e Arquitetura e Urbanismo pela PUC Minas, mestre e doutoranda em Teorias Psicanalíticas pela UFMG.

A programação do Festival de Verão segue até quinta-feira, dia 6, no Centro de Referência da Juventude (CRJ) e no Centro Cultural UFMG.

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