‘Super-Choque’ e sua grande aula sobre questões sociais, racismo e ancestralidade

Em uma época onde a representatividade cresce cada vez mais, foi possível mostrar que existem personagens de quadrinhos que fogem do padrão.

Por Marcos Marques, do HQzona

Super Choque (Imagem: Divulgação/DC Universe)

Recentemente, a Marvel fez a sua grande aposta em Pantera Negra, um filme que trouxe um novo ar para Hollywood com um elenco de pessoas negras trazendo muito empoderamento, crítica social e se destacando por ser um dos melhores filmes já feito não apenas no gênero de super-herói, mas no modo geral.

Mas não apenas a Marvel foi a percussora em trazer um super-herói negro para os cinemas, como a DC foi a grande responsável por trazer uma das animações mais incríveis para a televisão de muitas crianças e adolescentes dos anos 2000, vai me falar que você não ficava ansioso e cantava a introdução de Super-Choque? A animação fez um grande sucesso pelo mundo mas aqui no Brasil ficou extremamente popular por ser um desenho que inspirou muitas crianças negras que nunca se viram em um personagem mas se identificaram com o Virgil, um super herói negro que tem uma vida comum (apesar dos inimigos e etc).

Sabemos o quão importante é você mostrar a realidade de uma família negra e toda a estrutura que fez a comunidade negra sofrer por séculos. Vários filmes retratam sobre a escravidão ou mostram sempre uma família negra que é pobre, infeliz e que nunca tem momentos de felicidade, mas com Super Choque é diferente, eles mostram uma família negra comum, sem estereótipos racistas e classistas a história mostra que ele é um super-herói que quer salvar o dia, tem uma família, amigos e vivem de boa em relação a isso.

Mas ainda assim, a série consegue abordar temas que só após muitos anos, crianças e adolescentes que assistiram na época conseguiram entender a mensagem muito tempo depois como no episódio sobre bullying, onde um grupo de ‘valentões’ infernizam a vida de um estudante, até que ele resolve se vingar usando a arma que seu pai tinha em casa. É um episódio bem forte porque ele mostra como esse tipo de situação pode acabar com a vida de todos, mas também coloca Virgil em uma situação muito complicada porque sua mãe foi morta com uma bala perdida em uma briga de gangues, o que torna a ser um grande gatilho pra ele, logo pra ele, que lida com vilões do cotidiano que usam armas todos os dias. O episódio que Virgil sobre racismo pelo pai do Richie quando ele faz vários comentários racistas em relação ao hip-hop até afetar diretamente o herói.

Além de todos esses, acredito que o mais lindo e representativo é quando Virgil vai para Gana, na África, junto com seu pai e sua irmã e é mostrada uma verdadeira aula de historia porque eles mostram algumas curiosidades históricas como a independência do país nas mãos dos ingleses em 1957, O Monumento da Independência com a estrela negra que representa a liberdade africana do colonialismo e entre outros. Além disso, Virgil se sente tão inspirado e emocionado que ele chega a falar com o Richie (através daquele comunicador que TODOS QUERIAM TER) que ele se sente como se tivesse tirado um peso das costas por conhecer a sua origem e que lá ele não é apenas o único garoto negro, e sim, ele é apenas um garoto mostrando que ele esta totalmente confortável em estar em ‘casa’. Fora isso, Virgil conhece Anansi, a Aranha um super-herói africano que é baseado em um folclore muito antigo chamado ‘Anansi The Spider: Tale From The Ashanti’. Virgil se sente muito inspirado e até trabalha junto com o herói em uma aventura.

‘Na áfrica, Eu não sou um garoto negro’

Também é muito lindo como a Sharon quer conhecer a cultura africana e fica comprando roupas e acessórios.

Muito me faz pensar porque a DC Comics ainda não resolveu fazer mais adaptações do personagem em séries ou filmes. Ele tem muito potencial nos dias de hoje se levarmos em consideração que muitas produções com protagonistas negros tem crescido cada vez mais. Assim como Pantera Negra que se tornou um grande marco nos filmes de super-herois pela sua importância, seja pela representatividade, pela quebra de estereótipos com pessoas negras e talvez quem sabe um dia, poderemos ver Virgil sendo, mais uma vez, um simbolo para a nova geração de crianças e adolescentes negros.

Nos quadrinhos, Richie é gay e na cena mostrada acima, ele se ‘assume’ para Virgil, seu melhor amigo.

Super-Choque é um grande exemplo de desenho que segue um teor político de uma forma muito natural e as vezes chega até ser por acaso, se você é uma pessoa negra e já assistiu quando criança reveja e se emocione, é uma grande aula de educação, história, e representatividade negra.

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