Fim do feminicídio depende de “uma educação que não patriarcal”, diz professora

Mês também marca nove anos do assassinato de Raquel Genofre, que continua impune

Por Carolina Goetten, do Brasil de Fato

 

Protesto por justiça no caso Rachel Genofre, assassinada há nove anos / APP-Sindicato

Este sábado, 25 de novembro, marca o Dia Internacional da Não-Violência Contra a Mulher. Em todo o mundo, iniciativas de movimentos sociais e feministas buscam reduzir o quadro alarmante da violência doméstica: de acordo com o Ministério da Saúde, 47 mil brasileiras foram vítimas de feminicídio nos últimos dez anos. Dentre estas, 74% são pretas ou pardas.

Novembro também marca nove anos de um crime hediondo, que permanece sem solução. Em 2008, a pequena Raquel Genofre foi encontrada morta na rodoferroviária de Curitiba, depois de desaparecer ao sair da escola. Seu corpo, que jazia seminu dentro de uma mala, apresentava sinais de violência sexual e estrangulamento. Ela tinha oito anos de idade. “Desde então, em todo mês de novembro, retornamos à rodoferroviária para homenagear Raquel e exigir justiça. Esse caso não pode ser esquecido”, protesta a professora Juliana Mittelbach, da Marcha Mundial das Mulheres (MMM).

Na avaliação da MMM, a questão se torna um problema ainda maior porque falta um enfrentamento efetivo da violência contra a mulher e maior atenção das instâncias judiciais. “Crimes contra o patrimônio têm muito mais resolutividade do que feminicídios e violência contra nossas companheiras”, diz Juliana Mittelbach, que também integra a Rede de Mulheres Negras do Paraná.

Autonomia e enfrentamento

Os movimentos sociais e feministas têm se organizado para levar as discussões e se aproximar das mulheres vítimas da violência. Com plenárias ampliadas de participação coletiva e diálogo nas escolas, o objetivo é fortalecer a autonomia das mulheres. “Muitas não conseguem identificar que vivem situações de violência, porque a agressão não é só física – pode também ser psicológica, financeira. Precisamos de uma maneira de alcançar essas mulheres para que elas consigam se libertar desse ciclo. Esse é o papel dos movimentos sociais”, propõe Juliana Mittelbach.

Crimes contra o patrimônio têm muito mais resolutividade do que feminicídios e violência contra a mulher – Juliana Mittelbach

A lei Maria da Penha é outra medida que, para o Movimento, precisa ser revista e fortalecida. Embora tenha contribuído na proteção das mais ricas ou brancas, o Mapa da Violência ainda mostra um aumento de 54% de homicídios contra mulheres negras nos últimos dez anos.

Juliana Mittelbach avalia que uma forma fundamental de combate a esse problema é por meio da educação das crianças, para que elas recebam, desde cedo, formações questionadoras e de estímulo a um raciocínio pautado na coletividade. “Precisamos de uma educação que não seja patriarcal, que questione e nos faça capazes de questionar os padrões impostos pela sociedade”, avalia a professora.

Campanha nas ruas

Em protesto pelo fim da violência contra as mulheres, a movimentos feministas propõem, neste mês de novembro, uma programação com 16 dias de atividades. No dia 25, um grande ato geral com panfletagem leva a voz contra as opressões à rua XV de Novembro, na região próxima à Boca Maldita.

As atividades também incentivam a participação masculina: fundamentais na luta contra o machismo e pelo fim da violência, na condição de responsáveis pelos crimes, a MMM os convida a participar da atividade Homens pelo Fim da Violência contra as Mulheres, em 6 de dezembro, também perto da Boca Maldita.

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