Freddy Rincón e a arte que mora nos encontros

FONTEPor Milly Lacombe, da UOL
Rincón no treino do Santos Foto: Maurício de Souza / Agência Estado

A vida é a arte do encontro, cantou Vinicius em seu Samba da Benção de forma tão tocante quanto verdadeira. A gente é o que a gente faz a partir desses encontros. Foi de um encontro entre um meia versátil e um treinador criativo que nasceu o Freddy Rincón que conhecemos. Foi do encontro entre Luxemburgo e Rincón que a corintiana e o corintiano registraram o craque em suas memórias de forma incontestável. É no encontro entre Vasco e Corinthians em 2000 que nasce a eterna foto do capitão erguendo a taça do primeiro mundial. São os encontros que narram uma vida.

Um craque alvinegro que também foi alviverde, e isso é para poucos. Jogador que começou como atacante na Colômbia, na Italia (Napoli) passou a ser meia e, em 1998 no Brasil, encontrou a posição na qual jogou como um dos melhores do mundo: a de volante. Nunca deixou de ser matador na área, nunca deixou de armar o time a partir do meio de campo, apenas virou também um incomparável destruidor de jogadas do adversário e capitão absoluto do time que chamava de seu; acumulou funções com excelência, sem jamais parar de correr, de brigar, de lutar, de sorrir.

A camisa do Corinthians encaixou muitíssimo bem em seu corpo, em sua alma, em seu espírito. Foi um encontro entre grandes, um desses encontros que mudam para sempre muitos destinos.

Partiu precocemente por causa de um encontro que talvez pudesse não ter acontecido: com um carro que vinha na direção contrária. A morte também pode ser a arte do encontro, afinal. Não deveria ser assim. Ninguém deveria ir embora antes da hora. Mas o que sabemos nós sobre a hora certa de partir? O que sabemos nós sobre o que acontece depois que a experiência por aqui termina? A vida é a arte do encontro embora haja tanto desencontro pela vida, seguiu o poeta.

Pode parecer que nos desencontramos de Freddy Rincón, mas isso também não seria verdadeiro dizer. Em minha memória, por exemplo, ele segue erguendo a taça do mundial de clubes. Em minha memória ele segue vibrando depois que Edilson meteu a bola por entre as pernas de Karembeu e fez o segundo gol contra o Real. Em minha memória ele segue sorrindo. E isso é curioso porque mais do que qualquer jogada, mais do que qualquer gol ou do que qualquer caneco o que fica em mim é seu sorriso: verdadeiro, honesto, largo, contagiante, único.

Obrigada por tudo, meu querido e inesquecível capitão. Foi um imenso prazer esse encontro com você.

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