Tem sido demonstrado que o capital humano, nível de educação da população, é uma variável extremamente importante nos modelos de crescimento econômico. Países que investiram em educação avançaram também em estabilidade política, crescimento econômico e lograram conquistas sociais importantes. Não menos importante é ter uma política permanente na formação de lideranças políticas e em todas as áreas de conhecimento.
Por Isaac Roitman, do Monitor Mercantil
No Brasil, nossas lideranças, na sua maioria, não estão à altura para superarmos as crises que vivemos. A liderança é um talento que precisa ser identificado e desenvolvido. Howard Gardner define talento “por um arranjo complexo de aptidões ou inteligências, habilidades instruídas e conhecimento, disposições de atitudes de motivações que predispõem um indivíduo a sucessos em uma ocupação, vocação, profissão, arte ou negócio”. No Brasil a identificação e desenvolvimento de talentos e lideranças são incipientes.
Na área de Ciência e Tecnologia, a partir da criação do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) na década de 50 do século passado, tivemos um progresso extraordinário especialmente na formação de recursos humanos.
Só 0,2% da população brasileira possui
doutorado; na OCDE, a média é de 1,1%
Um dos programas mais importantes do CNPq, o de Iniciação Científica, que tem hoje a participação de cerca de 100 mil estudantes do ensino básico e universitário, representa um celeiro para a formação de futuros cientistas. Em adição, foi também notável a implantação de um sistema de pós-graduação de qualidade, fundamental para o desenvolvimento científico e tecnológico brasileiro.
Vivemos uma realidade econômica desfavorável. Equivocadamente, em vez de aumentarmos os investimentos em Ciência e Tecnologia, como instrumento para superarmos a crise, os investimentos têm sido cortados. Universidades e centros de pesquisas tentam dar continuidade aos seus projetos. Apesar disso, muitos foram interrompidos. Os jovens pesquisadores desencantados começam a emigrar para países onde a Ciência e Tecnologia são valorizadas. É o que chamamos de “fuga de cérebros”.
Essa diáspora de nossos talentos e lideranças é motivo de extrema preocupação, pois comprometerá o desenvolvimento e o futuro do Brasil. Segundo a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), apenas 0,2% da população brasileira possui doutorado, enquanto a média dos países pertencentes à organização é de 1,1%. Se não interrompermos rapidamente essa diáspora, teremos em alguns anos números mais assustadores explicitando o nosso retrocesso.
A comunidade acadêmica e científica, através de suas organizações – Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), Academia Brasileira de Ciências (ABC), Associação Nacional de Dirigentes das Instituições Federais (Andifes), Associação Nacional de Pós-Graduandos (ANPG) e outras –, tem alertado para essa verdadeira calamidade que comprometerá a qualidade de vida das gerações futuras.
É importante a restauração imediata das verbas das agências de fomento: CNPq, Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal do Ensino Superior (Capes), Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), fundações estaduais de apoio a pesquisas e outras. Vamos todos lutar contra essa insanidade, interrompendo essa verdadeira calamidade que é a fuga de cérebros no Brasil.
Artigo publicado originalmente em Monitor Mercantil (https://monitordigital.com.br/fuga-de-cerebros-uma-calamidade-para-o-brasil).
Isaac Roitman
Professor emérito da Universidade de Brasília, pesquisador emérito do CNPq e membro da Academia Brasileira de Ciências.