Fundação Tide Setubal realiza festival de literatura e debate literatura negra e a luta contra o racismo

Já é tradição: todo ano, crianças, jovens, escolas e moradores de São Miguel Paulista participam do Festival do Livro e da Literatura de São Miguel , realizado pela Fundação Tide Setubal. Em 2017, o tema do evento, que acontece entre 8 e 10 de novembro, é “Letras Pretas: poéticas de corpo e liberdade”, trazendo um debate sobre a importância da literatura negra e de sua valorização para a promoção da identidade negra, o fortalecimento do povo negro e a luta pela equidade.

Do  Gife 

“No Festival, a literatura é trabalhada como um instrumento de mediação para abordar temas importantes na sociedade contemporânea, permitindo que a gente pense em novos caminhos, imagine novos mundos”, diz Inácio Pereira, coordenador da projetos da Fundação Tide Setubal. “Em 2015, após constatarmos um aumento da intolerância e da ausência de escuta no país, decidimos trabalhar a importância das diferentes vozes na sociedade. Para incentivar o diálogo, optamos por tornar mais audíveis algumas dessas vozes, fundamentais para a equidade na sociedade. Escolhemos então como tema para 2016 o feminino e o feminismo, trabalhando a igualdade de gênero, e este ano terminamos essa trilogia debatendo a questão racial e a literatura negra”.

Além de valorizar a produção literária negra, a ideia é convidar o público a refletir sobre a representatividade do negro na literatura nacional. Isso porque, apesar de 53% da população brasileira se autodeclarar negra, de acordo com dados do IBGE, 94% dos autores brasileiros publicados pelas três maiores editoras do país são brancos, assim como 92% dos personagens, como aponta estudo da pesquisadora Regina Dalcastagnè que resultou no livro “Literatura Contemporânea – Um Território Contestado” (2012).

Atrações e atividades

Graças a parcerias com escolas, instituições locais, coletivos culturais e universidades da região, o evento em 2017 terá um recorde de pontos. Serão mais de 150 ações distribuídas em 50 locais de São Miguel Paulista. Este ano, o Festival é apresentado pelo Ministério da Cultura, com parceria estratégica da Prefeitura de São Paulo, da Universidade Cruzeiro do Sul e do Museu Afro Brasil, apoio cultural do Sesc, patrocínio do Itaú BBA e realização da Fundação Tide Setubal.

Dentre as atrações, estão intervenções artísticas, contação de histórias, saraus, peças de teatro, conversas com autores, cortejos literários, interpretações de programas de TVs na rua, venda e troca de livros, além de oficinas de criação de turbantes e das tradicionais bonecas Abayomi, que serão realizadas nas escolas do bairro. Tradição no festival, no dia 8 de novembro, árvores da região amanhecerão com livros pendurados como frutos literários, que poderão ser “colhidos” pela própria comunidade. Essa intervenção acontecerá durante os três dias de evento.

Nos destaques da programação estão os debates com autores e especialistas na área. A mesa “O corpo – da literatura à psique” encerrará o primeiro dia de festival, às 20h, no auditório D da Universidade Cruzeiro do Sul, com uma reflexão sobre os impactos negativos do racismo e os caminhos traçados por autores negros na busca de garantir mais pluralidade e diversidade às narrativas. Participarão do debate os autores Ana Maria Gonçalves, ganhadora do prêmio Casa de Las Americas em 2007, com o romance Um defeito de cor; Luiz da Silva (Cuti), criador do jornal literário Jornegro e da série de antologias Cadernos Negros; e a psicóloga e psicanalista Maria Lúcia da Silva, organizadora do livro O Racismo e o Negro no Brasil: Questões para a Psicanálise.

Já no dia 10 de novembro, às 15h, no auditório A1 da Universidade Cruzeiro do Sul, os autores Débora Garcia, poetisa, produtora cultural e idealizadora do Sarau das Pretas; e Akin Kinte, coautor do livro Punga, e que também participa de outras diversas coletâneas, debatem a literatura como um instrumento de inclusão dos territórios periféricos e seus personagens como sujeitos narradores e não mais como objetos narrados, na mesa “Sujeitos Periféricos: Identidade e Protagonismo”. Eles serão mediados pelo doutor em letras e professor de literatura brasileira, Valmir de Souza.

Ocupação Feira Preta

Nos três dias de evento, o pátio da Universidade Cruzeiro do Sul receberá a Ocupação Feira Preta Afro-Literária, com a exposição e venda de produtos de moda e artesanato de 21 afroempreendedores. A partir das 9h30, os Painéis Feira Preta convidarão o público a refletir sobre temas ligados à literatura afro-brasileira. No dia 8, o painel “40 anos do Quilombhoje – Construção de uma trajetória em promoção da literatura negra brasileira” propõe um encontro de histórias, autores, leitores e incentivadores da literatura negra, como uma celebração pelo 40º aniversário do grupo paulistano Quilombhoje, que possui rica atuação voltada para a área editorial e de promoção da cultura negra. Jornalistas, youtubers e escritores participarão do “Bate-Papo de Jornalistas – Por uma comunicação preta”, no segundo dia do evento. Para encerrar os painéis, no dia 10, escritoras e educadoras refletirão sobre os avanços no campo da inclusão da diversidade racial nas escolas na mesa “Por uma educação infantil mais inclusiva”.

Outro destaque é a programação preparada pelas escolas da região. Nesta edição, 25 escolas públicas estão envolvidas na construção do Festival do Livro com atividades elaboradas exclusivamente para os três dias de evento.

Para encerrar a festa, o público poderá assistir ao show de encerramento “Canções e poemas periféricos”, idealizado pelo músico Renato Gama, que contará com versões musicais de poemas de diversas artistas pelos intérpretes Mariana Per, Luedji Luna, Heloisa de Lima, Adriana Moreira, Tita Reis, Melvin Santana, Renato Pessoa e Gabrielle Raini.

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