O meio audiovisual permite a construção de narrativas diversas e potentes. No entanto, o ingresso do jovem negro e periférico nessa área não é simples. Uma pesquisa da Cinemateca Negra mostrou que somente 10% dos filmes brasileiros lançados entre 2010 e 2020 foram dirigidos por profissionais negros.
Dentro deste contexto, a área de Comunicação de Geledés – Instituto da Mulher Negra, tem investido na formação da juventude negra. Nesta quarta-feira (19), uma edição reduzida da iniciativa ocorreu durante o evento Trampos do Futuro, iniciativa da Fundação Itaú sobre carreira e mercado de trabalho. Dezenas de estudantes de ensino fundamental, de diferentes escolas do estado de São Paulo, participaram de uma oficina de audiovisual.
Os alunos foram divididos em grupos e fizeram vídeos relacionados à cobertura do evento: captação de imagens, entrevistas, bastidores e curiosidades. Mostraram a estrutura do local e cobriram o lançamento do livro “Pedagogias Hip Hop e as culturas juvenis nas escolas”, publicação de Geledés lançada no mesmo dia, no espaço exclusivo da organização.
Posteriormente, os vídeos editados serão publicados no Tik Tok de Geledés. A experiência explorou todas as etapas de uma produção de guerrilha, ou seja, de baixo custo, utilizando dispositivos acessíveis.
A estudante Eduarda Dias, uma das participantes, atuou como apresentadora e entrevistadora. Ela contou que gostou da experiência e se surpreendeu com o volume de atividades para fazer tudo acontecer. “Sempre achei essa área muito interessante. Os erros de gravação foram engraçados e também achei muito legal toda a produção que existe por trás”, relatou.
Frutos da casa
A oficina foi ministrada por jovens que participaram do curso de Multimídia, formação oferecida por Geledés que visa impulsionar a profissionalização de pessoas entre 18 e 30 anos na área de comunicação, a partir de um enfoque nas temáticas de raça e gênero. Dividido em quatro módulos, o curso oferece oficinas de produção de texto, vídeo, áudio e edição.
Segundo Natália Carneiro, coordenadora de comunicação institucional de Geledés, o curso de Multimídia tem a essência de outros projetos formativos de Geledés, baseada na construção de narrativas e protagonismo da juventude, como o Projeto Rappers e Geração XXI. “Essa formação atende uma necessidade muito atual, que é você se comunicar e olhar para o que está mais próximo de um jovem negro e que mora em São Paulo ”, destacou.
Brisas, da primeira turma, foi um dos monitores da oficina e diz ter percebido os alunos e alunas bastante interessadas e engajadas na produção. “Eu estava mais mediando essa ação, que seria filmar e contar sobre o evento. Logo os adolescentes se jogaram. Foi super legal”. Para Caio Vinícius, da segunda turma, ministrar a atividade foi uma oportunidade de conexão com o futuro. “Foi uma oportunidade incrível estar próximo da juventude, do pessoal mais novo”.
Natália Carneiro pontuou que o propósito é apresentar aos estudantes parte do mundo da comunicação e suas potencialidades, bem como mostrar que essa área pode ser escolhida como profissão. “Ficamos muito felizes com a presença e entrega dos jovens, ficamos entusiasmados com o compromisso que eles tiveram e com o material que foi produzido”, disse.
