Movimentos negros podem usar a inteligência artificial a seu favor? Para Dom Filó, produtor cultural e fundador da Cultne, organização sem fins lucrativos dedicada à Memória e História da População Negra, a resposta é sim. “Nosso objetivo enquanto Instituto Cultne é ver no que a inteligência artificial nos beneficia”, afirmou. Desde 1980, o Instituto Cultural Cultne registra manifestações culturais do povo negro na educação, música, arte, religião e esporte e se consagrou como o maior acervo online de cultura negra da América Latina.
A fala aconteceu durante a oficina “Inteligência Artificial – Intuição Ancestral”, ministrada por Dom Filó e pelo jornalista e publicitário David Obadia para colaboradoras de Geledés – Instituto da Mulher Negra no dia 11 de abril. O objetivo da formação foi entender como as tecnologias têm sido usadas no âmbito da memória e comunicação, além de possibilidades de inseri-las no trabalho da organização.
“Hoje tivemos um passo muito importante em que as organizações Cultne e Geledés discutiram possibilidades no campo da tecnologia, em especial da inteligência artificial. O que falta é nos apoderarmos, utilizando-as de forma efetiva. O mais importante é nutrir de informação esse universo da internet. Porque, se as pessoas vão buscar por cultura negra, vão cruzar com Geledés e Cultne”, afirmou Dom Filó.
Sueli Carneiro, filósofa e cofundadora de Geledés, pontuou que a atividade “teve por objetivo uma primeira aproximação de Geledés com as possibilidades que a inteligência artificial oferece para uma instituição que tem memória e reparação entre as principais áreas de atuação”.
O início da formação contextualizou conceitos como inteligência artificial e tecnologia ancestral africana. A inteligência artificial pode ser definida como sistemas computacionais projetados para realizar tarefas que normalmente requerem inteligência humana, incluindo habilidades de aprendizado, raciocínio e reconhecimento de padrões.
Já a tecnologia ancestral africana diz respeito a um conjunto de conhecimento, práticas, invenções e soluções desenvolvidas por diferentes povos africanos ao longo da história, antes mesmo da colonização europeia. Outro ponto abordado foi o racismo algorítmico, viés discriminatório amplificado por ferramentas tecnológicas.
A segunda parte da oficina foi destinada à demonstração de uso de ferramentas, sites e aplicativos de inteligência artificial que podem ser úteis para o dia a dia de trabalho. Entre os recursos apresentados estão os chatbots de IA, capazes de responder a comandos para criação de conteúdos em texto, imagem, vídeo e áudio.
“A inteligência artificial pode ajudar a trabalhar com maior tranquilidade, executando tarefas com menos esforço e ter mais tempo para aplicar em áreas mais criativas ou de autocuidado. A IA permite que a gente alce voos maiores e tenha mais tempo para focar no que importa “, pontuou David Obadia.
Sueli Carneiro destacou que várias ideias e desafios foram aventados durante a formação. “Saímos todas e todos muito animados com as possibilidades para potencializar nossa produção de conhecimento, capacidade de armazenamento de informação e preservação da memória institucional”.