Geração ‘Só a Cabecinha’: você lê o título e nada mais

A autora, Bia Granja, é co-criadora e curadora do youPIX e da Campus Party Brasil.

Outro dia vi um estudo que diz que 25% das músicas do Spotify são puladas após 5 segundos. E que metade dos usuários avança a música antes do seu final. Enquanto isso, no YouTube, a média de tempo assistindo a vídeos não passa dos 90 segundos. O mais chocante desses dois dados é que o uso do Spotify e do YouTube, em geral, está focado no lazer, no entretenimento. Ou seja, se a gente não tem paciência para ficar mais de 90 segundos focado em uma atividade que nos dá prazer, o que acontece com o resto das coisas?

Você ficou sabendo da entrada do ator Selton Mello no seriado Game Of Thrones? Saiu em vários grandes portais brasileiros e a galera na internet compartilhou loucamente a notícia. Tudo muito bacana, não fosse a notícia um hoax, um boato inventado por um empresário brasileiro apenas pra zoar e ver até onde a história poderia chegar. Bem, ela foi longe: mais de 500 tuítes com o link, mais de 3 mil compartilhamentos no Facebook, mais de 13 mil curtidas, matéria no UOL, Ego, Bandeirantes, O Dia e vários outros sites.

Quem não tem paciência de ouvir cinco segundos de uma música tem menos paciência ainda pra ler uma notícia inteira. Pesquisas já mostraram que a maioria das pessoas compartilha reportagens sem ler. Viramos a Geração “só a cabecinha”, um amontoado de pessoas que vivem com pressa, ansiosas demais pra se aprofundar nas coisas. Somos a geração que lê o título, comenta sobre ele, compartilha, mas não vai até o fim do texto. Não precisa, ninguém lê!

Nunca achei que a internet alienasse as pessoas ou nos deixasse mais burros, pois sei que a web é o que fazemos dela. Ela é sempre um reflexo do nosso eu, para o bem e para o mal. Mas é verdade que as redes sociais causaram, sim, um efeito esquisito nas pessoas. A timeline corre 24 horas por dia, 7 dias da semana e é veloz.

Daí que muita gente acaba reagindo aos conteúdos com a mesma rapidez com que eles chegam. Nas redes sociais, um link dura em média 3 horas. Esse é o tempo entre ser divulgado, espalhar-se e morrer completamente. Se for uma notícia, o ciclo de vida é ainda menor: 5 minutos. CINCO MINUTOS! Não podemos nos dar ao luxo de ficar de fora do assunto do momento, certo? Então é melhor emitir logo qualquer opinião ou dar aquele compartilhar maroto só pra mostrar que estamos por dentro. Não precisa aprofundar, daqui a pouco vem outro assunto mesmo.

Por outro lado… quem lê tanta notícia? Se Caetano Veloso já achava que tinha muita notícia nos anos 1960, o que dizer de hoje? Ao mesmo tempo em que essa atitude é condenável, também é totalmente compreensível. Todo mundo é criador de conteúdo, queremos acompanhar tudo, mas não conseguimos. Resta-nos apenas respirar fundo, tentar manter a calma e absorver a maior quantidade de informação que pudermos sem clicar em nada. Será que conseguimos?

Fonte: DCM

+ sobre o tema

Menos de 1% dos municípios do Brasil tem só mulheres na disputa pela prefeitura

Em 39 cidades brasileiras, os eleitores já sabem que...

Prostituição e direito à saúde

Alexandre Padilha errou. Realizar campanhas de saúde pública é...

10 desenhos infantis inteligentes e que promovem a igualdade

Helena tem um ano e oito meses, um bebê,...

para lembrar

Especialista diz que racismo na internet também é crime

A sociedade brasileira vem acompanhando diversos casos de ofensas...

Como a internet está matando a democracia

Em entrevista à Pública, o pesquisador e autor inglês...

Cantora usa o Facebook para denunciar agressão do namorado

Na última segunda-feira, 14 de julho, a cantora Flavia...

O grande boicote às redes sociais

Importante teórico da comunicação do século 20, o canadense...

Campanha denuncia desigualdade no acesso à internet com as ‘franquias de dados’

 Direito essencial, o acesso à internet no Brasil é barrado à população mais pobre pelo limite dos pacotes de dados móveis. Para as classes...

Mulheres negras blogueiras, responsabilidade e ação

O trabalho de uma mulher negra blogueira não tem o devido reconhecimento e visibilidade, mesmo que seus artigos alcance milhares de leitores. Existe uma visão...

O mercado do “antirracismo” nas redes sociais e os fregueses brancos

As redes sociais são um grande Mercado, onde se encontra de tudo. Tudo mesmo: autoajuda, moda, tendências, política, culinária, deus ou deuses, ódio, pensamento...
-+=