Gervinho fez justiça em campo, mas o Feyenoord merece punição exemplar pelo racismo

Os ultras do Feyenoord já haviam dado uma enorme prova de imbecilidade na visita a Roma, antes do primeiro jogos pelos mata-matas da Liga Europa. Destruíram parte da Fontana della Barcaccia, monumento de quase 400 anos em um dos principais pontos da capital. Após o dano ao patrimônio cultural, não demonstraram quaisquer ressentimentos com a camisa que ainda tirava sarro da atitude. E foram além, ao cometerem mais barbaridades nesta quinta, durante o reencontro em Roterdã. Arremessaram uma banana inflável de Gervinho, em ato racista, além de paralisarem o jogo com outros objetos atirados em campo. Mas, na bola, a Roma calou a torcida e alcançou a classificação às oitavas com a vitória por 2 a 1.

Por: , do Trivela

A depredação da fonte e as agressões em Roma tiveram implicações criminais, com 23 holandeses presos. Porém, o racismo merece punições igualmente pesadas. Tanto sobre os torcedores quanto sobre o próprio clube, relapso no controle do estádio. Bananas infláveis eram comuns no Estádio De Kuip entre as décadas de 1980 e 1990, copiando uma brincadeira dos ingleses – não significavam intenções racistas, portanto. Voltaram a aparecer nos últimos anos, apesar de serem arremessadas em campo outras vezes. Em um jogo com tanto potencial de incidentes, no entanto, o controle deveria ser maior. O que organização da partida não teve em nenhum momento. Além das bananas, até mesmo artefatos explosivos entraram nas arquibancadas.

Com a bola rolando, a Roma abriu o placar no final do primeiro tempo, com Adem Ljajic, poucos minutos depois do incidente com Gervinho. Já no início da segunda etapa, a expulsão de Te Vrede gerou a revolta generalizada no De Kuip. Vários objetos foram atirados no gramado, provocando a interrupção da partida. Até mesmo uma bomba explodiu durante a paralisação. O que não impediu a arbitragem de retomar o jogo. Preferiu ignorar os riscos aos jogadores, em uma decisão bastante contestável.

Talvez a preocupação com o que acontecia nas arquibancadas tenha relaxado demais os jogadores da Roma. O empate do Feyenoord saiu na sequência, com Manu, jogador negro que já servia para calar o ato de seus próprios torcedores. E coube a Gervinho anotar o gol que classificou os italianos, para não dar qualquer alegria aos ultras holandeses. Após cruzamento de Torosidis, o marfinense completou na pequena área para estufar as redes. Na comemoração, mandou coraçõezinhos, como que se respondesse aos seus agressores. Objetos continuaram sendo atirados em campo, mesmo contra os jogadores holandeses, que tentavam acalmar a situação. Não brecou a merecida classificação romanista.

Mesmo se os holandeses avançassem, no entanto, poderiam ser eliminados da competição. Em 2006/07, a Uefa agiu contra o clube por uma garrafa de cerveja atirada contra um jogador do Blackburn, eliminando-o nos 16-avos de final. O acumulo de atos deste ano, porém, é muito mais grave, com o registro também de uma agressão – não física, mas moral. Além de uma punição esportiva exemplar, o que se espera é que a implicação criminal siga em frente para os responsáveis. O racismo, sobretudo, não pode passar impune. Há a implicação sobre os indivíduos, mas também sobre a instituição. Pelo menos na bola, a justiça já foi feita pela Roma e por Gervinho.

 

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