“Gloria se vai, mas fica. Nos deixa, mas permanece”, a pequena homenagem de uma jornalista que é sua grande fã

Eu escrevo este texto com as lágrimas ainda marejando os olhos. Essa é uma quinta-feira triste, amanhecida pela despedida de alguém que já deixa muita saudade, mas que deixa, acima de tudo, um enorme legado. 

Como comentei nas redes sociais, fui surpreendida pela notícia da morte de Gloria Maria ao chegar à redação do jornal Folha de Pernambuco, onde trabalho como repórter. Repórter, igual Gloria foi durante toda sua vida. Ancorou telejornais, programas de variedade, revistas eletrônicas, mas nunca deixou a reportagem. Gostava de gente, de rua, de conhecer, ouvir e recontar histórias.

Não nos conhecemos pessoalmente, mas para mim é como se ela fosse parte de uma grande família. De verdade, sinto como se alguém próximo a mim tivesse partido. Quantas vezes minha mãe, irmãs e eu não nos sentamos em frente à tv para assistir às matérias que ela produzia? Para assistir aos programas que ela apresentava? Para vê-la ser entrevistada por colegas de profissão? Para assim, então, conhecer mais da história dessa mulher que inspirou o Brasil com uma trajetória marcada por pioneirismos?

Gloria foi a primeira repórter a entrar ao vivo e em cores no Jornal Nacional. Foi a primeira em uma transmissão com alta definição. A primeira em muitos sentidos. Para muitas gerações, a primeira jornalista negra que elas viram na tv. A primeira a demonstrar que é possível perseguir e conquistar os seus sonhos, apesar das estruturas que mantêm o país.

Viajou o mundo, nos mostrou diferentes culturas. Foi independente, mãe, mulher. Corajosa. Não coube em rótulos, ou em caixas, foi única. Ícone. 

Eu sonhava em um dia conhecê-la (e peço licença para utilizar as nossas fotos lado a lado). Mas sei do privilégio de ter vivido na mesma época que ela, enxergando sobre seus ombros, uma gigante do jornalismo brasileiro. Escrevo esse texto com o sentimento de gratidão, por tudo o que ela fez e faz, representou e representa.

Tem uma música de Emicida que diz: “2 de fevereiro, dia da rainha, que pra uns é branca, pra nós é pretinha”. Glória se vai neste dia 2. Se vai, mas fica. Nos deixa, mas permanece. 

Gloria é exemplo, inspiração, referência. Ela é, assim mesmo, no presente. E assim será, sempre. 

Obrigada, portanto.

Obrigada, por tanto!

Sobre a autora

Jaqueline Fraga é escritora, jornalista formada pela Universidade Federal de Pernambuco e administradora pela Universidade de Pernambuco, com MBA em Comunicação e Jornalismo Digital pela Universidade Cândido Mendes. Apaixonada pela escrita e pelo poder de transformação que o jornalismo carrega consigo, é autora do livro “Movendo as Estruturas” (2022), do “Big Gatilho: um livro de poemas inspirado no BBB 21” (2021) e do livro-reportagem “Negra Sou: a ascensão da mulher negra no mercado de trabalho (2019)”, obra finalista do Prêmio Jabuti. Também é coautora do livro “Cartas para Esperança” (2022) e repórter do jornal Folha de Pernambuco. Escreve por profissão, prazer e terapia. Escreve porque respira, respira porque escreve. Pode ser encontrada nas redes sociais nos perfis @jaquefraga_ (Instagram e Twitter) e @livronegrasou (Instagram).


** ESTE ARTIGO É DE AUTORIA DE COLABORADORES OU ARTICULISTAS DO PORTAL GELEDÉS E NÃO REPRESENTA IDEIAS OU OPINIÕES DO VEÍCULO. PORTAL GELEDÉS OFERECE ESPAÇO PARA VOZES DIVERSAS DA ESFERA PÚBLICA, GARANTINDO ASSIM A PLURALIDADE DO DEBATE NA SOCIEDADE.

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