Nem a guerra nas favelas colocou o Brasil na lista dos países mais suscetíveis a episódios de agitação política nos próximo cinco anos, mas o país passaria a correr esse risco se o conflito se alastrar, segundo os pesquisadores Sam Bell e Amanda Murdie, professores assistentes de Ciência Política na Universidade do Kansas.
– Produzimos esta lista mais ou menos na mesma época da violência nas favelas do Brasil (por conta da ocupação do Morro do Alemão no Rio de Janeiro). E ficamos surpresos que o que Brasil não estivesse nela –, diz Sam Bell.
– Entretanto, nos demos conta depois de que a violência no Brasil não parece ser politicamente motivada; é mais de natureza mais criminal, e nosso modelo não capta isto –, afirma.
Analisando os dados de violência política doméstica em 150 países entre 1990 e 2009, os pesquisadores levam em conta três fatores para determinar os países mais vulneráveis a aumentos nos episódios de agitação política direcionada contra o governo.
O primeiro é o nível de repressão do Estado contra os cidadãos, que inflama as tensões e encoraja levantes contra o governo.
O segundo é a facilidade de coordenar os protestos, incrementada em grande medida pelo advento das tecnologias móveis, como celulares, redes sociais, blogs e o site Twitter.
O terceiro é a capacidade do Estado de conter a violência em protestos através do preparo e capacitação de suas forças de segurança.
Para os pesquisadores, com as tecnologias de coordenação amplamente disponíveis, os níveis de violência vistos no Brasil dependeriam mais dos outros dois fatores – principalmente do terceiro.
– O que poderia ocorrer no Brasil é que a repressão do governo contra o crime organizado pode elevar os níveis gerais de repressão –, observou Amanda Murdie, co-autora do modelo.
– Portanto, mesmo que não vejamos isto hoje, esse efeito pode se tornar visível da próxima vez que aplicarmos esse modelo no futuro.
América Latina
Embora o Brasil não faça parte da lista, da América Latina constam Colômbia, Peru, Equador, Chile, Argentina, México e Honduras.
Os pesquisadores concordam que, de certa forma, a situação brasileira é oposta à do México, onde o governo tenta provar que tem capacidade para manter o tráfico de drogas sob controle.
O país tenta afastar a noção de que pode se tornar um “Estado falido”, como já foi chamado por analistas de segurança regional.
– O México é um país no qual a capacidade do Estado vem caindo recentemente –, afirma Murdie.
Outra ausência notória na lista é a Venezuela. Para os pesquisadores, embora a tensão entre simpatizantes e detratores do governo continue palpável, o governo do presidente Hugo Chávez tem conseguido manter sob controle os níveis de violência durante os protestos da oposição.
Fonte: CorreiodoBrasil