Há povo sem território. E território sem povo, é o caso do Brasil

Existem povos sem territórios. São exemplos os Curdos, os Tibetanos, os Palestinos, os Bascos e os Chechenos para nos restringirmos apenas aos maiores. São aproximadamente 50 milhões de pessoas à procura de um lugar para chamar de seu.

Por Edison Brito Do Brasil247

E temos também território sem povo. Caso do Brasil. Um lugar lindo, rico, deslumbrante, poderoso e vasto. Mas sem povo.

Darci Ribeiro dizia que ainda precisávamos inventar o povo brasileiro pois, historicamente não passávamos de um entreposto comercial.

Pior, o empório chamado Brasil era movido a escravidão. Foram 4 séculos de escravagismo. Toda uma economia baseada na mão de obra escrava. Gerações e gerações de pretos nascendo e morrendo sem nunca verem a luz do sol.

Já no fim do século XIX, o parlamento imperial discutia a abolição da escravatura. Falavam sobre quase tudo. De quanto seria a indenização paga pelo estado por preto liberto, quais as garantias de continuidade do negócio e quem os substituiria nas lavouras e nas construções etc. .

A elite da época afirmava que estava preocupada com o futuro da nação brasileira. Balela! Se houvesse esta preocupação eles discutiriam o destino dos escravos.

O que fazer com eles depois de libertos? Como sobreviveriam? O governo os indenizariam também? Dariam um roçado? Devolveriam para o continente africano os ex-escravos com pelo menos uma carta de agradecimento? Não, ninguém simplesmente pensou neles!

10 milhões de almas postas nas ruas de uma hora para outra. Sem trabalho, educação, saúde e cidadania. Sem dinheiro, sem amparo legal e sem perspectiva. Lixo jogado fora. A preocupação do governo ou dos que deles se beneficiaram com o destino dessa massa humana era zero. Que se virassem. E se viraram. Miscigenação, sincretismo religioso, social e cultural. O brasileiro em construção.

Enquanto isso, vivendo numa redoma, a elite foi levando sua vida. Alienada da dinâmica social, perpetuou e passou aos seus descendentes a visão e os valores escravagista. Contaminando, por sua vez, a insípida classe média. O vetor, como sempre, foi a educação, a mídia e o poder.

Como nunca estudamos esse período a fundo, não nos livramos completamente dessa visão.

E sofremos por isso nos dias atuais.

A elite política, econômica, intelectual ainda vive em seus castelos. A classe média reproduz o comportamento dessa classe. O desprezo com os debaixo é o mesmo. Somos tratados como servos, sub-raça, preguiçosos, idiotas, ladinos e vagabundos. Enfim, o brasileiro típico. Mão-de-obra a servi-los e a segui-los, sem questionamento. E muitos assumem o pensamento elitista/paternalista como verdade.

Os golpistas, aproveitando desse ranço escravista, fazem o que querem. Acabam com os direitos trabalhistas, sociais e previdenciários. Destroem a educação e a saúde. Fecham indústrias. Entregam riquezas. Se submetem aos EUA. Compram na cara-dura deputados. Protegem bandidos e prendem inocentes. E nos esculacham. Descaso completo.

Então, não nos causa surpresa a proteção dada pelo congresso ao presidente bandido. A subserviência sim é que indigna. Mas é reflexo dessa postura senhor-escravo.

O período Lula/Dilma foi apenas um hiato nesses 517 anos de mandonismo. Tivemos um vislumbre do potencial e do orgulho de ser quem somos. Aí incomodamos o mundo deles.

Nesses treze anos começamos a discutir e a formar o que podemos chamar de provo brasileiro. Racismo, sexismo, misoginia, homofobia, direitos, inclusão e proteção entraram na pauta.

Mas, como se vê, foi logo abortado pela quadrilha de canalhas. E, se não lutarmos já, continuaremos a ser um proto-povo.

Temos um território, não temos um povo.

+ sobre o tema

Fome extrema aumenta, e mundo fracassa em erradicar crise até 2030

Com 281,6 milhões de pessoas sobrevivendo em uma situação...

Presidente de Portugal diz que país tem que ‘pagar custos’ de escravidão e crimes coloniais

O presidente português, Marcelo Rebelo de Sousa, disse na...

O futuro de Brasília: ministra Vera Lúcia luta por uma capital mais inclusiva

Segunda mulher negra a ser empossada como ministra na...

Desigualdade ambiental em São Paulo: direito ao verde não é para todos

O novo Mapa da Desigualdade de São Paulo faz...

para lembrar

Outras impressões, manifestações livres sobre qualquer assunto – O perfil do Fumante

Leno F Silva para o Portal Geledés Os fumantes...

Wikileaks está entre os nomeados ao Nobel da Paz

Site de vazamentos de documentos confidenciais foi apontado por...

A fome no Brasil é uma triste realidade

Série de reportagens feitas pela parceria da Oxfam Brasil...

“O cidadão que consome drogas é um portador de direitos como todos os outros”

Em entrevista aos Jornalistas Livres, o antropólogo Mauricio Fiore,...

Foi a mobilização intensa da sociedade que manteve Brazão na prisão

Poucos episódios escancararam tanto a política fluminense quanto a votação na Câmara dos Deputados que selou a permanência na prisão de Chiquinho Brazão por suspeita do...

MG lidera novamente a ‘lista suja’ do trabalho análogo à escravidão

Minas Gerais lidera o ranking de empregadores inseridos na “Lista Suja” do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE). A relação, atualizada na última sexta-feira...

Conselho de direitos humanos aciona ONU por aumento de movimentos neonazistas no Brasil

O Conselho Nacional de Direitos Humanos (CNDH), órgão vinculado ao Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania, acionou a ONU (Organização das Nações Unidas) para fazer um alerta...
-+=