Harry Belafonte morre, aos 96 anos, nos Estados Unidos

Ele era cantor, ator e, principalmente, um ativista que rompeu barreiras. Belafonte foi o primeiro ator negro a alcançar enorme sucesso em Hollywood como protagonista. Em 2014, ganhou um Oscar honorário por seu trabalho humanitário.

FONTEJornal Nacional
Harry Belafonte em 2011 - Foto: John MacDougall/AFP/Getty Images

Morreu nos Estados Unidos, aos 96 anos o cantor, ator e ativista Harry Belafonte.

Em uma época em que a segregação ainda era lei e rostos negros uma raridade nas telas grandes e pequenas, Harry Belafonte fez história.

Ele nasceu no Harlem, bairro negro de Nova York, em 1927. Filho de imigrantes do Caribe, foi criado pela mãe. Em 1956, foi responsável por uma febre nos Estados Unidos de música caribenha, com “Calypso”, álbum que tinha dois dos seus maiores sucessos: “Jamaica Farewell” e “Day-O (The Banana Boat Song)”, que se tornou um ícone por gerações.

“Calypso” alcançou o topo da Billboard. Permaneceu lá por 31 semanas e foi o primeiro álbum de um artista a vender mais de 1 milhão de cópias. Em 1959, era o artista negro mais bem pago do mundo.

Um pouco antes disso, em 1956, um jovem pastor e ativista político, Doutor Martin Luther King Jr., convidou Belafonte para ouvir seu sermão na Igreja Batista Abissínia do Harlem. O artista disse que ficou completamente abalado com as palavras de Luther King, que se tornou uma figura transformadora na vida dele. Mas, segundo a biógrafa de Belafonte, o encontro ajudou a transformar o mundo.

“Foi um ponto de virada para Belafonte e também para o movimento dos direitos civis. King representou um novo movimento pelos direitos civis, mas só quero enfatizar que Belafonte esteve envolvido em ativismo político desde antes, desde o final dos anos 1940, e King pediu ajuda a ele. Era uma relação muito importante para os dois”, conta a biógrafa Judith Smith.

Hoje, se sabe que Belafonte, preocupado com a família de Luther King, pagava um seguro de vida para o amigo e apoiou financeiramente a viúva de King depois do assassinato dele.

Foi o primeiro ator negro a alcançar enorme sucesso em Hollywood como protagonista. Mas seu estrelato durou pouco: Belafonte não estava interessado em papeis leves, sem crítica social. O último papel dele no cinema foi em 2018, em “Infiltrado na Klan”, do diretor Spike Lee.

Belafonte viveu na pele o racismo. Em 1968, quando cantou no seu próprio programa de TV junto com Petula Clark, por exemplo. Depois que a cantora, branca, encostou no braço dele, um grande anunciante cancelou o contrato e o programa saiu do ar.

Cantor, ator, mas, acima de tudo, o que ele mesmo chamava de “artista cidadão”. Lutou contra o Apartheid na África do Sul, combateu a fome no continente africano.

Em 2011, no lançamento de um documentário sobre a vida dele, foi questionado: qual o seu objetivo?

“Justiça. É uma meta universal. As pessoas no Cairo querem justiça, as pessoas na Alemanha querem justiça. Então, meu objetivo é trabalhar sempre que puder para esse objetivo”, afirmou Harry Belafonte.

Ganhou Grammy, Tony, Emmy. Em 2014, foi homenageado com um Oscar honorário por seu trabalho humanitário.

Na manhã desta terça-feira (25), Harry Belafonte morreu em Nova York, aos 96 anos, por insuficiência cardíaca. Mas seu legado como artista cidadão não será calado.

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