O Pescador navega pelas águas africanas. Às vezes, percebe a fartura, prepara o mergulho e, então, pesca. Mas não peixe e, sim, histórias. Desse jeito, ele se alimenta do repertório cultural ribeirinho. Ler a obra é como deslizar numa correnteza de pequenos contos entre lugares e tempos. O conjunto desses leitos fabulosos oferece uma África nada homogênea para o leitor.
O Rio Níger, ao noroeste, permite a referência ao povo soninquê. Em O brilho precioso de Wagadu, o Pescador recolhe uma narrativa conhecida nessa região desde o século VIII.
Já em O presente do Nilo, as águas deixam fluir pequenas lembranças do poderoso império negro de Cush, lá pelo terceiro milênio a.C.. Estas convivem com as formas mais modernas de se relacionar com o mesmo rio, como fazem os povos Dinka, Shilluck e Annuak.
Também o lago Nakuru, ao leste, é local para iscas. Pois Entre a neve e o vento rosa emergem acontecimentos recentes, como o embate, nos anos 1960, entre a Grã- Bretanha e as sociedades kikuyu, e Massai, do atual Quênia. Lá cai neve, fala-se swahili, uma língua para comunicação nos mercados formados entre os diversos grupos, e observa-se um peculiar comportamento em relação aos antepassados. Esses assuntos são vias para aprofundar conhecimento sobre o leste africano, que os flamingos acompanham há tempos.
E, finalmente, à beira do Rio Orange, ao sul do continente, o Pescador, em Olhos de diamantes, encontra a sabedoria dos !Kung San e, em especial sua relação com o louva-deus.
enviado enviado por Carlos Eugênio