Hollande leva a Merkel plano de novo pacto para tirar UE da crise

 

O novo presidente francês, François Hollande, tomou posse na manhã desta terça-feira e já se reúne nesta noite com a chanceler alemã, Angela Merkel, para discutir propostas com o objetivo de estimular o crescimento econômico na Europa, um tema que causa controvérsias entre os dois líderes.

Esse será o primeiro encontro entre Hollande e Merkel. A chanceler, que apoiou a candidatura do ex-presidente Nicolas Sarkozy, havia se recusado a se encontrar com Hollande durante a campanha presidencial francesa.

Durante a posse, Hollande disse que a França proporá aos parceiros europeus “um novo pacto que vai aliar a redução necessária de dívidas públicas com o indispensável estímulo da economia”.

– Para sair da crise a Europa precisa de projetos de solidariedade e crescimento”, acrescentou Hollande. Após a cerimônia de posse no Palácio do Eliseu, o novo presidente francês participa de compromissos em Paris e viaja nesta tarde para Berlim, onde terá uma reunião com Merkel seguida de um jantar.

– Será uma maneira de nos conhecermos. E também para dizermos com franqueza o que pensamos sobre o futuro da Europa – disse Hollande na segunda-feira – A França e a Alemanha precisam trabalhar juntas, mas não pensamos da mesma forma sobre determinados assuntos. E falaremos a respeito para encontrarmos compromissos.

A chanceler declarou que irá receber Hollande “de braços abertos”, mas, por trás das declarações diplomáticas, Merkel não tem dado sinais de que pretende mudar sua posição em relação à necessidade de controlar os gastos públicos na Europa para superar a crise.

A previsão é de que os dois líderes mantenham discussões em busca de posições comuns para levá-las à reunião extraordinária de líderes da União Europeia (UE) no próximo dia 23 e depois à próxima Cúpula do bloco, nos dias 28 e 29 de junho.

Medidas de estímulo

Hollande, que critica as políticas de austeridade fiscal, quer renegociar o pacto de disciplina orçamentária firmado por 25 países da UE para incluir medidas de estímulo ao crescimento.

A iniciativa de Hollande ganhou apoio de países como Itália, Bélgica e Grã-Bretanha, e também da Comissão Europeia.

A Alemanha também defende a necessidade de crescimento econômico, mas tem uma visão bem diferente sobre as medidas que deveriam ser adotadas

Merkel declarou que “não quer crescimento por meio de medidas que aumentem a dívida” e defende a realização de reformas estruturais, sobretudo a flexibilização do mercado de trabalho, para estimular o crescimento econômico.

Hollande propõe o desbloqueio de recursos não utilizados pelo Banco Europeu de Investimentos (BEI) e pelos chamados fundos estruturais do continente e também a criação de eurobonds para financiar projetos de infraestrutura.

O novo líder francês defende ainda ampliação do papel do Banco Central Europeu (BCE), que poderia passar a emprestar diretamente recursos para países, o que a Alemanha recusa.

– A Alemanha não pode bloquear, ao mesmo tempo, as discussões em relação aos eurobonds e ao papel do BCE – declarou Hollande logo após sua vitória.

Em um editorial publicado na segunda-feira no jornal econômico francês Les Echos, o ministro alemão das Finanças, Wolfgang Schäuble, diz que seu país está disposto a discutir a utilização de recursos dos fundos estruturais europeus e do BEI.

Schäuble afirma que a iniciativa para promover o crescimento econômico é “legítima” e também corresponde ao desejo da Alemanha, mas ressalta que é necessário dissipar um “mal entendido”.

– Crescimento não é, evidentemente, o estímulo artificial da demanda por meio do aumento de gastos orçamentários – diz o ministro alemão.

Derrota

A forte derrota do partido da chanceler, o CDU, nas eleições na Renânia do Norte-Vestfália, o Estado mais populoso da Alemanha, pode reforçar, indiretamente, a posição do presidente francês, escreve o jornal Le Monde.

A austeridade fiscal defendida por Merkel foi o tema central da campanha dessa eleição regional. Mas analistas dizem que a derrota do partido de Merkel não significa que a chanceler estaria isolada.

Ela ainda continua popular, como indica uma pesquisa publicada pela revista alemã Stern. Segundo a publicação, 59% dos alemães apoiam sua política de austeridade. “A grande maioria dos alemães acha que é preciso ser muito rigoroso em relação à dívida pública. A chanceler tem grande apoio popular nessa questão”, afirmou Nikolaus Blome, chefe de redação do jornal alemão Bild em entrevista ao canal de TV France 2.

Analistas questionam até que ponto a França poderá desafiar a Alemanha e o Banco Central Europeu, sob o risco de criar temores sobre a qualidade da dívida francesa em um momento em que a situação na zona do euro voltou a ficar instável em razão da crise política na Grécia.

 

 

Fonte: Correio do Brasil 

+ sobre o tema

Africanos temem perda de espaço no novo governo brasileiro

Sinais de que o novo ministro das Relações Exteriores,...

Uma reflexão sobre a identidade africana através da prosa e da poesia

Chama-se Djidiu – Herança de ouvido, e é uma...

Com restaurante típico em SP, camaronesa quer ensinar a brasileiros história da África

Quando chegou à capital paulista, Melanito Biyouha se assustou...

Aos 75 anos, Nei Lopes lança ‘Dicionário de História da África’

Sambista, compositor e escritor prepara outros cinco livros e...

para lembrar

Kente os tecidos dos Reis Africanos

Kente é um tecido tradicional dos povos Ashanti ou...

Boko Haram liberta 82 meninas de Chibok há três anos em cativeiro

Grupo extremista sequestrou mais de 270 estudantes nigerianas em...

Os africanos que propuseram ideias iluministas antes de Locke e Kant

RESUMO Os ideais mais elevados de Locke, Hume e...

África exige da Europa restituição de tesouros roubados

Na França, há entre 4.500 e 6.000 objetos que...
spot_imgspot_img

Um Silva do Brasil e das Áfricas: Alberto da Costa e Silva

Durante muito tempo o continente africano foi visto como um vasto território sem história, aquela com H maiúsculo. Ninguém menos do que Hegel afirmou, ainda no...

Artista afro-cubana recria arte Renascentista com negros como figuras principais

Consideremos as famosas pinturas “A Criação de Adão” de Michelangelo, “O Nascimento de Vênus” de Sandro Botticelli ou “A Última Ceia” de Leonardo da Vinci. Quando...

Com verba cortada, universidades federais não pagarão neste mês bolsas e auxílio que sustenta alunos pobres

Diferentes universidades federais têm anunciado nos últimos dias que, após os cortes realizados pelo governo federal na última sexta-feira, não terão dinheiro para pagar...
-+=