Homem agride mulher e polícia diz não poder fazer nada

Avenida Paulista, esquina com a alameda Campinas, 23h10 de uma quinta-feira à noite, dia 10 de dezembro. Estou andando na calçada e vejo um cara de mais de 1,80 de altura, cabeça raspada, camiseta preta, bombado e estilo bad boy. A descrição parece até caricata para a cena que está prestes a acontecer. Ao seu lado, tem uma mulher de cabelos compridos presos em uma trança. Ele grita com ela e a chama de vagabunda. Eu paro e tiro o celular do bolso. Imediatamente ligo para a polícia.

Por Felippe Canale, do Brasil Post 

Tarde demais! Enquanto eu falo com a atendente do outro lado da linha, o cara da foto acima dá um soco que pega em cheio no ombro dela.

Algumas mulheres em volta gritam “seu covarde” enquanto eu clico a foto acima. Ligo mais uma vez para a polícia, passo o endereço e digo o que está acontecendo. Do outro lado da linha, eu escuto:

— Mas a vítima precisa de ajuda?

Eu repito que sim, pois ela está sendo agredida na minha frente. A atendente diz que vai verificar se tem alguma viatura próxima. Eu me aproximo do casal e digo que chamei a polícia.

O grandalhão covarde diz pra eu cuidar da minha vida. Ela me olha assustada e diz que é melhor eu não mexer com ele. O meu sangue ferve, me sinto um gigante e vou pra cima dele com o celular. Neste momento, vejo na esquina que algumas mulheres fecharam o trânsito e estão trazendo com elas um policial militar. Ele chega e pergunta “Qual é a ocorrência aqui?”.

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Aproveito para clicar o agressor mais de perto [foto acima]. Agora, na presença da polícia, ele está calmo e até sorri: “Aqui não tem ocorrência nenhuma. É apenas uma briguinha de casal de namorados”.

A garota do meio da foto faz parte do coro em defesa da mulher. Diz que presenciou a agressão: “Bate nela agora de novo. Quero ver se você tem coragem!”.

Uma pequena multidão se forma em volta. Uma das mulheres diz: “Não faça isso com você mesma. Ele te agrediu e vai acabar te matando se você não denunciar”.

Eu digo que sim, que estou disposto a ir à delegacia depor a favor dela e contra ele. Todos ao nosso redor concordam.

O policial militar pergunta para ela: “Vai querer prestar queixa ou não?”. Ela sussurra que não, pois vai ser pior. “Depois ele vai me bater de novo.”

Eu questiono se isso já não é suficiente pra levá-lo pra delegacia. Digo que tirei fotos, que temos testemunhas. Digo que sou jornalista. Digo que existe a lei Maria da Penha. Digo que… já não sei mais o que digo, me sinto impotente, e o desespero aumenta quando o policial diz que o assunto está resolvido, devolve o documento para o agressor e fala que eles podem ir embora.

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Faço um clique do policial e ele vem pra cima de mim: “Tá me fotografando por quê?”. Eu explico que tenho o direito de fotografar a omissão da parte dele.

O agressor, antes de entrar no carro junto com a namorada, me olha e diz: “Seu babaca! Fica espero, hein! Marquei o seu rosto”.

Pasmem, ele vai embora na contramão e o policial não faz absolutamente nada. NA-DA!

— Senhor policial, posso perguntar o seu nome?
— Pra que você quer saber?
— Vou escrever uma matéria sobre isso. Vou denunciar a agressão e a sua omissão.
— Anota aí. Sargento Juliano. Se a vítima não quer denunciar, eu não posso fazer nada. Infelizmente é assim. A vítima precisa querer ser ajudada. Tá tudo errado. As leis, a justiça. Tudo!

Eu volto pra casa, escrevo estas linhas e penso…. Tá tudo errado.

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