Um homem contratado para fazer sexo com adolescentes e viúvas, como parte de um ritual de “purificação sexual”, foi condenado nesta semana no Malauí por manter relações sexuais desprotegidas com mulheres que tinham acabado de perder os maridos. Eric Aniva é soropositivo e não dizia isso às famílias que contratavam seus “serviços”.
Por Uol
A condenação diz respeito à prática conhecida como “limpeza da viúva”, que foi proibida no país africano há alguns anos.
Aniva é um “hiena”, como são chamados os homens pagos para garantir a “purificação sexual” feminina em vilarejos do Malauí. Em julho, ele admitiu em entrevista à BBC que fez sexo com mais de 100 mulheres e meninas sem revelar sua condição de HIV positivo.
A reportagem levou o presidente do país, Peter Mutharika, a ordenar sua prisão.
O presidente queria que Aniva fosse julgado por fazer sexo com menores de idade, mas nenhuma das adolescentes se apresentou para depor.
Em vez disso, Aniva foi julgado por “prática cultural nociva”, ato descrito na Lei de Igualdade de Gênero do Malauí, que pune as relações sexuais com viúvas recentes para fins de “purificação”.
Duas mulheres testemunharam contra ele.
O “hiena” receberá a sentença em 22 de novembro. A pena mais provável é de cinco anos de prisão.
Uma assistente social do distrito de Nsanje, onde vive Aniva, disse que a maioria dos moradores era contra o julgamento, por considerarem seu “trabalho” como parte de uma tradição.
Aniva foi tema de uma reportagem da BBC sobre práticas de limpeza sexual no Malauí. Depois da publicação, o caso atraiu atenção da imprensa internacional.
O ritual
Em algumas regiões remotas no sul do país, é comum que os pais de meninas paguem por sexo com um homem quando elas chegam à puberdade. A prática não é vista pelos mais velhos como estupro, mas como um ritual de “limpeza”.
Depois de sua primeira menstrução, as meninas são obrigadas a manter relações sexuais durante três dias para marcar a passagem da infância à vida adulta.
Caso se oponham, acredita-se que uma doença ou alguma tragédia fatal possa atingir suas famílias ou até a comunidade toda.
Aniva é um dos mais conhecidos “hienas” da região.
“Muitas das pessoas com quem fiz sexo são meninas em idade escolar”, ele disse à BBC.
“Algumas meninas têm 12 ou 13 anos, mas prefiro as mais velhas. Todas essas meninas sentem prazer comigo. Elas ficam orgulhosas e dizem a outras pessoas que sou homem com H, que sei como dar prazer a uma mulher”.
No entanto, muitas adolescentes que o repórter da BBC Ed Butler entrevistou no vilarejo de Aniva demonstraram aversão à prática.
Uma jovem contou que todas as suas amigas tiveram que fazer sexo com um ‘hiena’.
“Tive de me submeter para o bem dos meus pais”, disse uma delas, chamada Maria. “Se me recusasse, a minha família poderia ser vítima de doenças – e até morrer – então fiquei apavorada.”
Além de adolescentes e viúvas, os rituais também incluem mulheres que passaram por um aborto.
‘Aposentado’
Em julho, Aniva disse ao repórter da BBC que tinha duas mulheres, as quais estavam cientes da sua profissão.
Ele contou ter cinco filhos legítimos, mas não soube dizer quantas mulheres talvez tivesse engravidado. Aniva relatou também que era um dos dez “hienas” da comunidade, e que todo vilarejo do distrito de Nsanje tem um. Os homens recebem de US$ 4 a U$ 7 (R$ 17,20 a R$ 23,10) pelo “serviço”.
A tradição diz que não se pode usar proteção durante a relação sexual com um “hiena”. As meninas acreditam que, por ser escolhido em razão de suas boas maneiras, o homem estaria imune ao vírus HIV, que transmite a Aids.
Obviamente, o HIV ameaça essas comunidades. Segundo a ONU, um em cada dez malauianos é infectado pelo vírus.
Quando disse à BBC que era soropositivo, Aniva logo mudou o tom, descreveu o repórter Ed Butler. Em vez de se vangloriar, falou que andava fazendo menos “purificações”.
“Ainda faço alguns rituais aqui e ali”, afirmou. “Estou me aposentando”.