Homenagens a Mãe Bernadete no Quilombo Pitanga dos Palmares

Quilombo Pitanga dos Palmares prepara diversas homenagens para lembrar Mãe Bernadete no aniversário de um ano do assassinato da líder quilombola

Festival de cultura, manifestação em defesa da diversidade cultural e prêmio que homenageia representantes da cultura negra. Estas são algumas das homenagens preparadas pelo Quilombo Pitanga dos Palmares, na Bahia, para lembrar um ano da morte de Mãe Bernadete, sua líder e ialorixá. Em meio à revolta causada pelo assassinato brutal de Maria Bernadete Pacífico os quilombolas do Pitanga dos Palmares fazem questão de celebrar a memória de sua matriarca, para que sua memória permaneça viva.

As homenagens acontecem durante a 7ª edição do Festival de Cultura e Arte Quilombola, que ocorre anualmente no Pitanga dos Palmares, em Simões Filho, na Bahia. O evento, promovido pelo Pitanga dos Palmares e a Associação Etno Desenvolvimento Muzanzu , está marcado para os dias 16, 17 e 18 de agosto. Sete comunidades quilombolas da região e lideranças de todo o país se reunirão para celebrar o legado de Mãe Bernadete com visitas guiadas, apresentações musicais, danças tradicionais, oficinas culturais e feira de produtos artesanais e gastronômicos.
Na sexta-feira, dia 16, o quilombo recebe o Encontro Nacional de Mulheres da Conaq (Coordenação Nacional de Articulação de Comunidades Negras Rurais Quilombolas), da qual Mãe Bernadete era uma das lideranças.
No sábado, 17, dia da morte da ialorixá, haverá uma celebração ecumênica, com missa seguida de cânticos para orixás do candomblé.

No domingo, 18, a Caminhada da Diversidade Cultural reunirá lideranças e representantes da sociedade civil de todo o Brasil, numa grande celebração pedindo paz, respeito e tolerância religiosa e cultural.
E as homenagens não param: o evento será palco também do lançamento do Prêmio Mãe Bernadete Pacífico – Reconhecimento e Ancestralidade, que homenageará personalidades negras cujos trabalhos ou ações são voltados para reconhecer, valorizar e estimular a cultura negra no Brasil.

Contexto

Mãe Bernadete foi executada com 22 tiros, sendo 12 no rosto, dentro de casa, no dia 17/08/2023. Reconhecido como morte anunciada, o assassinato da ialorixá faz parte das estatísticas que evidenciam a insegurança que reina nas comunidades tradicionais no Brasil. Segundo a Conaq, foram mais de 30 assassinatos de quilombolas de 2013 a 2023, sendo a maioria deles dentro dos territórios e com uso de arma de fogo, sem que as vítimas tivessem chance de se defender. Os estados mais violentos são Bahia, Maranhão e Pará. Só na Bahia, foram pelo menos 11 quilombolas mortos em 10 anos, conforme o levantamento. Para mapear esses crimes, a Conaq prepara agora um relatório inédito e atualizado com números de 2008 a 2024.

Os conflitos territoriais são a principal ameaça à segurança das comunidades tradicionais, como mostra a segunda edição da pesquisa Racismo e Violência contra Quilombos no Brasil, desenvolvida pela Conaq e a Terra de Direitos. O estudo compreendeu os assassinatos registrados nos quilombos entre 2018 e 2022. A matriarca do Quilombo Pitanga dos Palmares denunciava as constantes invasões ao território, que pertence à sua família há mais de cem anos.

Indignado com o assassinato brutal e a insegurança no quilombo, Jurandy Wellington Pacífico, filho de Mãe Bernadete, lembra que a ialorixá morreu sem ver justiça para a morte de seu outro filho, Flávio Gabriel Pacífico, o “Binho do Quilombo”, também executado a tiros sete anos atrás. Somente no último dia 17 de julho dois acusados da morte de Binho finalmente foram presos pela Polícia Federal. No caso de Mãe Bernadete, as investigações avançaram mais rápido. O Ministério Público da Bahia concluiu que o assassinato estaria ligado à luta da vítima contra o tráfico de drogas na área do quilombo. Mas dois dos cinco criminosos, que estão na lista dos mais perigosos do estado da Bahia, seguem foragidos. O terceiro acusado só foi preso esta semana pela polícia civil da Bahia.

A impunidade favorece a ação dos criminosos, principalmente quando as vítimas são mulheres. Mãe Bernadete, por exemplo, foi morta com 22 tiros, 12 deles no rosto – uma demonstração da perversidade dos assassinos e um recado direto para tentar calar a voz dos quilombos. A Conaq vem lutando para evidenciar esse cenário de insegurança e violência contra as lideranças femininas pretas. Segundo a organização, depois de um ano do assassinato de Mãe Bernadete, nada mudou no que se refere à vulnerabilidade dessas defensoras de direitos humanos. Daí a necessidade de mapear e publicar esses dados, como forma de pressionar as instituições a adotarem medidas efetivas para evitar novas tragédias.


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