Homens, saiamos do armário

Depois de tantos encontros significativos nesta Semana da Mulher, um pensamento não me sai da cabeça. Por que não compartilhamos nossas histórias de parceria com nossas companheiras, nossos bons exemplos como pais? Por que temos vergonha de assumir que cuidamos dos nossos filhos, lavamos a roupa e a louça em casa?

Por Claudio Henrique dos Santos Do Linked In

HeforShe – ONU Mulheres

É verdade que enquanto as mulheres avançaram rapidamente para o mercado de trabalho, as tarefas domésticas e o cuidado dos filhos ainda são um território desconhecido para uma boa parte dos homens. Mas é um grande equívoco pensar que não haja exceções. Elas são inúmeras. Entretanto, os homens raramente se manifestam a esse respeito, com medo de serem julgados pelos outros homens e pela sociedade em geral.

Fui dono de casa por um período de quatro anos. Deixei minhas atividades de executivo para apoiar a carreira da minha esposa. No início, morria de vergonha de assumir que cuidava da casa e da minha filha. Anos depois, mesmo já compartilhando minha história como palestrante, ainda me questionava se estava fazendo o certo ao expor isto. Precisei “sair do armário” e confesso que não foi um processo fácil.

O machismo oprime os homens de uma maneira menos cruel e evidente do que as mulheres – não somos vítimas da violência doméstica, ganhamos salários mais altos, ocupamos mais posições de liderança – mas ainda assim, sofremos com seus efeitos. Não nos permitimos viver a paternidade em toda sua plenitude ou expressar nossos sentimentos, afinal, “homem não chora”. Talvez isso explique o motivo da taxa de suicídio entre os homens ser quatro vezes maior do que entre as mulheres.

A obrigação de ser o provedor da casa, persiste em muitas cabeças e o efeito pode ser devastador. Não são raros os relatos de mulheres que me escrevem para compartilhar que seus maridos entraram em depressão por conta de desemprego. Muitas vezes o próximo passo é a agressão. E aí, são elas que acabam perdendo seu emprego, pois muitas vezes não encontram coragem para denunciar seus parceiros nem a acolhida necessária dentro das empresas.

As transformações já estão em andamento. E os homens devem se posicionar neste cenário. É fundamental apoiar a equidade de gênero e a igualdade de oportunidades e mais do que isso, falar abertamente. Devemos rever nossas atitudes perante o machismo, como pensamos e nos comportamos dentro e fora de nossas casas. Precisamos ser vigilantes com o assédio que acontece em lugares públicos e a violência que ocorre na casa ao lado.

Em resumo, é hora de começar a exercer a empatia e “sair do armário”, mostrar que não estamos indiferentes. Lutar por um mundo mais justo e com mais respeito para as mulheres é nossa obrigação. Devemos fazê-lo não apenas pelo fato de que temos nossas filhas, esposas, companheiras, namoradas, mães, mas simplesmente porque é o correto a ser feito.

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