Índio xavante volta à tribo após se formar em faculdade de Sorocaba

Tewaté deixou comunidade Namunkurá, no MT, para estudar geografia. Formado recentemente pela UFSCar, ele diz que diploma ajudará a aldeia.

Por Amanda Campos Do G1

Entre os xavantes da comunidade Namunkurá, no Mato Grosso (MT), a palavra Tewaté significa “dono do trovão”. Quem explica é um dos próprios índios da aldeia, Gedeão, de 35 anos, cujo segundo nome, homônimo, foi um “presente” da mãe, Jacinta Penhouro, 78, para que o filho tivesse força para vencer batalhas na vida. E a crença parece ter dado certo. Em busca de melhorar a vida na comunidade, o índio deixou a tribo em 2011 para cursar geografia na Universidade Federal de São Carlos, UfsCar, em Sorocaba (SP). Cinco anos depois, ele voltou ao local onde nasceu diplomado – e cheio de boas ideias.

“Nossa sociedade vem sofrendo uma grande exposição por causa do sistema capitalista, que invade aldeias e agride o meio ambiente. Temos de nos preparar para isso”, enfatiza.

Ao G1, Tewaté afirma que o cacique [líder indígena], Simão, está sempre aberto a conversar com os índios sobre a ideia de deixá-los sair da aldeia para estudar, pois sabe que a volta deles está atrelada a avanços importantes para o povo indígena. “Quando alguém quer sair para estudar, precisa da aprovação do cacique. E ele sabe que essa educação é importante não apenas para a gente, que sai da aldeia, mas para a comunidade. Ele é um líder consciente.”

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Índio optou por curso na universidade para ajudar seu povo (Foto: Arquivo pessoal)

Foco no estudo
Assim como outros índios da tribo, o geógrafo dividiu sua rotina entre a cidade e o campo no início da vida adulta, quando optou por investir nos estudos. Ao menos uma vez por semana ele percorria vários quilômetros entre a comunidade e Barra do Garça (MT), onde ficava na casa da professora Marli Augusta, 60, considerada sua segunda mãe, até terminar o ensino médio na Escola Estadual Irmã Diva Pimentel já com quase 30 anos. “Ela [Marli] me adotou como filho. De segunda a sexta ficava na cidade e aos finais de semana, voltava para a tribo”, diz.

Foi navegando na internet que ele descobriu uma espécie de bolsa de estudos voltada para o povo indígena na UFSCar. “Minha mãe me deu o dinheiro para realizar a prova e fui aprovado”, afirma.

Adaptação
Após ter a quantia necessária para viajar de avião até São Paulo e de lá seguir para Sorocaba, o índio ficou instalado em uma moradia estudantil em Salto de Pirapora (SP). Bem humorado, ele afirma que enfrentar o inverno foi mais difícil do que ficar longe da família. “Sentia muito frio. Essa foi sem dúvida a maior dificuldade [risos]. Mas falando sério, recebi apoio pedagógico da universidade e fiz grandes amigos. Não era fácil ficar longe de casa, mas foi tranquilo.”

Coordenador em exercício do curso de geografia, Carlos Henrique Costa da Silva, 34 anos, explica que o caso de Tewaté não é isolado e que a Universidade oferece um número de reservas de vagas aos índios por meio do Programa de Ações Afirmativas.

“Os indígenas realizam um vestibular específico. O objetivo é constatar que eles falam português e têm conhecimentos gerais adquiridos durante o ensino médio. Depois, ele é submetido a um teste oral”, afirma.

Após esse processo, os alunos aprovados recebem ajuda de uma equipe educacional para a adaptação nas matérias. Para o professor, essa é uma maneira de incluir o índio na carreira acadêmica e ajuda-lo a sair dela com o diploma e um bom aproveitamento das aulas.

“São importantes essas vagas especiais porque a maior parte deles [índios] tem uma educação diferente da nossa. Não entro no mérito se é inferior ou superior. Mas há diferença. Alguns têm dificuldades em algumas áreas, mas quando colocamos eles para debater sobre sobrevivência e meio ambiente, sem exceção, todos dão um banho no restante dos alunos”, avalia.

Ao analisar seus cinco anos como universitário, Tewaté diz ter se adaptado bem a região sorocabana e afirma ter saudade dos amigos que fez na cidade. Mas que nunca pensou em fincar novas raizes na cidade. “Vocês [brancos] já têm geógrafos suficientes. Bons profissionais. Meu povo não. Meu povo me deixou sair da tribo para ter mais conhecimento. Só penso em retribuir essa confiança até o fim da minha vida. Eles precisam do meu conhecimento. Eu preciso deles”, diz.

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O índio afirma que sua formatura vai contribuir para melhorar a vida dos xavantes (Foto: Arquivo pessoal)

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