A ira justa de Marilena Chauí

Marilena Chauí

por Paulo Nogueira

Você só encontra essa voz provocadora e inteligente na internet.

A filósofa Marilena Chauí fez duas apreciações interessantes nesta semana, uma sobre a mídia, outra sobre a classe média.

Numa, sobre a mídia, ela foi econômica. Noutra, sobre a classe média, foi torrencial.

Em ambas, ela estava essencialmente certa.

Sobre a mídia, ela disse que qualquer apreciação que fizesse conteria obscenidades.

Veja a mídia. Globo, Veja, Folha, Estadão: como não concordar com Marilena Chauí?

A mídia defende abjetamente seus próprios interesses, e os de seus amigos, e não o interesse público.

As empresas jornalísticas não pagam os impostos devidos (o papel não é taxado, por exemplo), gozam de uma absurda reserva de mercado (estrangeiros só podem ter 30% das ações) e historicamente se alinharam às ações mais nocivas contra o povo brasileiro, como o golpe militar de 1964.

A mídia brasileira precisa de um choque do capitalismo que prega mas que não pratica: tem que ser exposta à competição internacional e tem que criar vergonha na cara e parar de mamar no Estado, do qual sempre extraiu financiamentos a juros que são um assalto ao contribuinte.

Boa parte da gestão inepta das empresas jornalísticas brasileiras reside nisso – nas vantagens que elas recebem de sucessivas administrações.

Isso acabou criando culturas corporativas em que você acha que é mais fácil resolver problemas com um telefonema ao presidente ou ao ministro do que com habilidade gerencial.

A internet apareceu para libertar a sociedade do monopólio de opinião das empresas de mídia, e isso é um fato que deve ser comemorado.

Você só tem acesso a Marilena Chauí na internet. Em compensação, ”pensadores ”, aspas, como Vilas, Magnolis, Pondés et caterva estão em toda parte, como pernilongos na praia, defendendo o mundo da iniquidade que foi sempre a marca do Brasil.

Sobre a classe média, Marilena Chauí também está certa.

Historicamente, a classe média é, em geral, o que existe de mais reacionário numa sociedade.

Nas grandes transformações da humanidade, como na França de 1789, lá estava a classe média na defesa assustada da manutenção da ordem.

Na Alemanha de 1933, foi a classe média que pôs Hitler no poder. Nos Estados Unidos destes dias, é a classe média — obesa, entupida de pipoca e coca cola gigante, sentada no sofá vendo blockbusters de Hollywood —  que dá sustentação a guerras como a do Iraque e a do Afeganistão.

Uma das razões do sucesso escandinavo como sociedade é que, lá, a classe média foi educada, e aprendeu a importância do verbo repartir.

A classe média brasileira ainda está bem longe disso. É racista, preconceituosa, homofóbica. Detesta negro, detesta nordestino, detesta gays.

Detesta tanta coisa que, exatamente por isso, é detestável, como disse Marilena Chauí.


Paulo Nogueira

O jornalista Paulo Nogueira, baseado em Londres, é fundador e diretor editorial do site de notícias e análises Diário do Centro do Mundo.

 

Fonte: Diário do Centro do Mundo

-+=
Sair da versão mobile
Privacy Overview

This website uses cookies so that we can provide you with the best user experience possible. Cookie information is stored in your browser and performs functions such as recognising you when you return to our website and helping our team to understand which sections of the website you find most interesting and useful.

Strictly Necessary Cookies

Strictly Necessary Cookie should be enabled at all times so that we can save your preferences for cookie settings.

If you disable this cookie, we will not be able to save your preferences. This means that every time you visit this website you will need to enable or disable cookies again.