A jornada inspiradora de Sidney Poitier, o 1º ator negro a ganhar o Oscar

No dia 13 de abril de 1964, astro imprimiu seu nome na História do cinema ao ser premiado pela Academia.

Por  Amauri Terto, do HuffPost Brasil

JOHN D. KISCH/SEPARATE CINEMA ARCHIVE VIA GETTY IMAGES

“Foi uma longa jornada até este momento.”

São com essas palavras, um sorriso irradiante e ar de surpresa que Sidney Poitier inicia seu breve discurso na cerimônia do Oscar de 13 de abril de 1964.

Naquele dia, ele se tornou o primeiro artista negro norte-americano a ganhar o Oscar de Melhor Ator. A conquista foi fruto de seu trabalho em Uma Vez Nas Sombras (1963), filme no qual interpreta um generoso operário da construção civil.

É fato que a Academia já havia premiado um artista negro antes.

Em 1940, Hattie McDabiel ganhou o Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante pelo papel da governanta Mammy em E O Vento Levou. A estatueta da atriz, no entanto, é vista hoje com menos brilho, uma vez que a produção reforça estereótipos racistas.

Naquele 13 de abril, ao receber o Oscar das mãos de Ann Bancroft, Poitier cumprimentou a atriz com um beijo no rosto. Tal gesto gerou burburinho e reprovação por parte do público mais conservador. A década de 1960 era de confronto. Eram tempos de luta pelos direitos civis e igualdade racial.

Nesse cenário, Poitier foi pioneiro mais de uma vez.

De família bahamense, ele teve participação no American Negro Theatre de Nova York negada na juventude por conta de seu sotaque. Após treinar a pronúncia típica norte-americana, conseguiu entrar na companhia. Estreou na Broadway em 1946 e em 1950 estrelou seu primeiro longa, O Ódio é Cego.

Antes de receber a estatueta, o ator já havia sido indicado ao Oscar pela atuação em Acorrentados (1958). Três anos depois da festa da Academia, ele enfrentou outro tabu ao formar um casal interracial com Katharine Hepburn no filme Adivinhe Quem Vem Para Jantar, dirigido por Stanley Kramer.

Foi também em 1967 que o astro deu vida a um professor que luta pelo exercício de seu ofício em Mestre, Com Carinho, seu filme mais popular.

DIVULGAÇÃO/INSTRÍNSECA

Aos 91 anos, Poitier soma mais de 50 trabalhos no cinema, uma sólida carreira que, conta-se, foi construída à base de corajosas recusas de papéis que reforçavam estereótipos racistas.

A vitória do ator naquele 13 de abril foi algo inspirador para comunidade negra. No entanto, foi seguida de um jejum de 38 anos, o que traz novamente à tona a questão do racismo na história de Hollywood.

DANNY MOLOSHOK / REUTERSSidney Poitier em Hollywood em 2014.

Somente em 2002 outro artista negro voltaria a ganhar a estatueta de Melhor Ator. A estatueta foi para Denzel Washington, protagonista de Dia de Treinamento. Coincidentemente, na cerimônia que Denzel conquistou seu prêmio, Sidney Poitier foi homenageado pelo conjunto da obra.

“Aqui estou eu, no fim de uma viagem que em 1949 era considerada quase impossível”, disse o astro, evocando seu primeiro discurso.

 

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