Jornal britânico The Guardian critica novela Segundo Sol por falta de elenco negro

Matéria internacional lançada hoje (18) aborda falta de representatividade para o povo baiano na novela que se passa em Salvador

Do Correio24horas

Foto: Divulgação/Segundo Sol

“Bahia é o estado mais negro do Brasil: mas você não vai perceber isso na nova novela deles”. Esta é a tradução livre para o título da nova matéria do jornal britânico The Guardian, que aborda a falta de negros no elenco da nova novela das 21h da Globo, intitulada Segundo Sol. A trama, gravada em Salvador e em outras partes da Bahia, tem recebido críticas por ter um núcleo principal de atores brancos. “A telenovela Segundo Sol tem quase todo o elenco branco apesar de se passar em um local em que 80% da população é negra ou de raça mista”, afirma o subtítulo da matéria que exibe o grau internacional que a discussão atingiu.

“O que persiste muito fortemente nas mentes dos produtores e diretores é a ideia de que a população negra e afrodescendente é a minoria: a ideologia do branqueamento continua”, disse Joel Zito Araújo, autor do livro e documentário The Denial of Brazil – Negros na história das telenovelas brasileiras. – Diz trecho da matéria do The Guardian.

A matéria ainda traz outros trechos com dados, como:

“O último domingo marcou 130 anos desde o fim oficial da escravidão no Brasil, país que importou o maior número de escravos da África durante o período transatlântico de comércio de escravos. Cerca de 54% dos brasileiros se identificam como negros ou mestiços. Mas os críticos há muito sustentam que as pessoas negras e mestiças estão sub-representadas na televisão brasileira – e em instituições da vida real, como empresas e governo”.

O jornal, porém, não deixou de emitir lembretes sobre outras produções da Globo que traziam negros nos papéis de destaque: “A discussão sobre o Segundo Sol vem três anos depois que a Globo ganhou elogios por transmitir o primeiro programa do país a apresentar personagens negros ricos. Mister Brau era uma comédia musical sobre o confronto cultural entre um dueto pop-noutro-pop negro e seus vizinhos brancos esnobes”, afirma a matéria.

Resposta da emissora
O Ministério Público do Trabalho (MPT) notificou a emissora, na semana passada, com o alerta para que a produção respeitasse a “diversidade racial” do local no qual a trama é ambientada. “Quando os programas de televisão não espelham a sociedade, isso gera maior exclusão e reafirma estereótipos limitados para a população negra”, disse o órgão.

Em comunicado enviado ao colunista Maurício Stycer, do Uol, a Globo havia informado, porém, que a representatividade racial não é utilizada como critério de escalação de elenco. “Os critérios de escalação de uma novela são técnicos e artísticos. A Globo não pauta as escalações de suas obras por cor de pele, mas pela adequação ao perfil do personagem, talento e disponibilidade do elenco. E acredita que esta é a forma mais correta de fazer isso”, diz o texto.

A emissora ainda esclareceu que a novela terá um pulo no tempo, exibindo um novo momento que pode trazer novidades, inclusive no elenco: “Uma história como a de Segundo Sol, também pelo fato de se passar na Bahia, nos traz muitas oportunidades e, sem dúvida, reflexões sobre diversidade na sociedade, que serão abordadas ao longo da novela, que está estruturada em duas fases. As manifestações críticas que vimos até agora estão baseadas sobretudo na divulgação da primeira fase da novela, que se concentra na trama que vai desencadear as demais. Estamos atentos, ouvindo e acompanhando esses comentários, seguros de que ainda temos muita história pela frente”.

Na lista do elenco negro da novela já foram divulgados atores como Fabrício Bolieira (Roberval), Danilo Ferreira (Acácio), Roberta Rodrigues (Doralice) e Claudia di Moura (Zefa). Nenhum, porém, foi afirmado como atuante em um papel para o núcleo principal da trama.

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