O isolamento de crianças negras

reprodução/Instagram

Texto reproduzido do perfil de Ana Paula Xongani

No Midia Ninja 

“Em lágrimas escrevo:

Tem muita coisa linda na maternidade, mas tem muitas dores também. Ser mãe de uma menina preta me trouxe muitos medos, muitos desafios e muita força.

É muito triste ver a sua filha sendo rejeitada! Mesmo antes de dizer “Olá!” ela chega perto e todas correm, ela se aproxima, e todas as outras se agrupam, ela chama e ninguém responde. Isolam-a, excluem-a, a machucam.

Ela não entende, mas sente. Não reclama, mas entristece. Meu coração parte!

Dessa vez eu tava aqui espiando, chorando e pensando em formas de acolher a minha filha. Dessa vez eu chamei ela pro meu colo, abracei, disse que ela era linda e inteligente, falei que a amava.

Mas e quando eu não estiver?

A gente sempre fala da solidão da mulher negra, muitas vezes relacionada a afetividade adulta. Mas essa solidão começa muito cedo, começa na infância. O racismo é aprendido pelas estruturas e reproduzido pelos pequenos de forma assustadora. Tivemos avanços, mas as nossas meninas negras ainda são preteridas, rejeitadas, isoladas.

À minha filha eu perguntei:
– Suas amigas não querem brincar?

E ela me respondeu:
– É sempre assim mãe, mas eu não me importo, gosto de brincar sozinha.

Será que gosta? Ou aos 4 anos já se protege na solidão?

E pra você que acredita que é “coisa de criança” certamente você não é uma mulher negra. Nós mulheres negras vivemos esses mesmo traumas na infância, foi ruim mas com o passar do tempo a gente esqueceu, superou ou refletiu em outros momentos da vida. Mas, ser mãe te faz reviver alguns deles, e dessa vez de forma mais intensa e muito mais dolorosa.

Doe muito!”

Ana Paula gravou um vídeo também para o seu canal

*Gravei e publiquei um vídeo/desabafo no canal do youtube Ana Paula Xongani –  “Tenho Pressa”*

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