Jovem que venceu concurso de rainha, alvo de comentário racista, é ouvida pela polícia em MG

Enviado por / FonteG1

Moradora de Santo Antônio do Amparo gravou áudios em que ofende negros após jovem de 19 anos vencer concurso na cidade; depoimento dela foi marcado para a semana que vem.

A Polícia Civil começou a ouvir nesta quinta-feira (17) as pessoas envolvidas no caso de racismo envolvendo uma jovem de 19 anos que venceu um concurso de rainha em Santo Antônio do Amparo (MG). Eleita no fim de semana, ela foi ofendida com um comentário preconceituoso que viralizou depois do concurso.

O advogado de Maiza de Oliveira esteve na delegacia para acompanhar o depoimento dela e o da mãe.

“Hoje as duas vieram aqui na delegacia prestar esclarecimentos dos fatos, do ocorrido, a versão delas, de como se sentiram, a respeito da situação de racismo. Esse depoimento vai ser muito importante, porque é aqui na delegacia é onde se apura a prova da materialidade e colhe os indícios de autoria, a faze preparatória para a investigação criminal”, disse o advogado da jovem, Said Galboni.

Jovem de 19 anos foi alvo de ofensas racistas após vencer concurso de beleza em Santo Antônio do Amparo — Foto: Reprodução EPTV

A mulher que fez o comentário foi identificada e intimada a prestar depoimento. Mas segundo a polícia, a família de Nair Amélia Avelar Rodrigues alegou que ela está viajando e só poderá se apresentar na semana que vem.

O áudio que ela compartilhou em um grupo de WhatsApp gerou revolta.

“Gente, eu estava na roça e agora que eu vi o resultado. Ah, vou contar uma coisa procês: esse negócio de inclusão social tá foda. É os preto é que tá mandando em tudo mesmo. É cota na escola, é cota aqui, é cota ali e os branco tá tudo levando tinta. Da próxima vez, nós tem que pular num tanque de criolina e sair tudo pretinha, aí pode candidatar a qualquer coisa, que ganha”, disse.

O concurso, realizado todos os anos, foi transmitido pela internet por causa da pandemia. Mas diferente de outras edições, foi aberto a qualquer participante que tivesse mais de 15 anos.

“Na hora eu falei, ah, deixa, isso não vai fazer diferença na minha vida, mas depois que vai passando o tempo, você vai vendo o peso que isso é, aí isso foi me incomodando de uma forma que eu nunca me senti incomodada sabe, quando a gente vê o racismo contra a pessoa dói na gente, agora você imagina o racismo ser com você, dói muito mais”, disse Maiza.

Uma consultora de moda estava entre os jurados e usou as redes sociais para falar do caso.

“Eu fiquei muito honrada de participar, porque nesse concurso, vários padrões e preconceitos foram quebrados, todo mundo teve espaço. Todo mundo pôde mostrar a sua beleza externa, interna e seu estilo e é por isso que eu me sinto honrada. A Maiza, a vencedora, recebeu o prêmio por merecimento, não foi um jurado, foram cinco jurados julgando tantas meninas lindas e ela ganhou por merecimento. Quero parabenizar essas meninas e dizer que você Maisa, merece muito, você é maravilhosa”, disse Natália Bertolini.

A estudante Dayane Paula Silva Vieira era uma das candidatas e foi eleita primeira princesa. Ela diz que também se sentiu ofendida com o comentário.

“O racismo não é opinião, racismo é crime, é uma coisa muito grave, agride o psicológico, deixa o psicológico destruídos, e eu acho que nem eu, nem Maiza, ninguém merece passar por isso

A legislação brasileira prevê pelo menos duas formas de criminalizar atos racistas. Uma delas, o racismo em si, é quando a pessoa usa termos preconceituosos para se referir a uma raça ou etnia. A outra é de injúria racial, quando a ofensa também é motivada pela raça, mas direcionada a uma pessoa específica. Seja em uma conversa ou em uma mensagem, quem comete crimes assim pode ser penalizado.

“O fato do crime ter sido praticado em redes sociais não gera agravante, mas não impede que ela seja responsabilizada pelo ato racista praticado. No presidente caso, observamos o crime de racismo, onde a discriminação é generalizada a um coletivo, neste caso, o crime é imprescritível e inafiançável e a pena para quem o pratica é de 1 a 5 anos de reclusão e multa”, disse a integrante da Comissão de Igualdade Racial da OAB Varginha, Marian Cezário dos Santos Felipe.

Segundo a polícia, o depoimento de Nair Amélia Avelar Rodrigues foi agendado para a próxima terça-feira (22). Ela foi procurada pela produção da EPTV Sul de Minas, Afiliada Rede Globo, mas não foi encontrada. Na quarta-feira (16), um dos filhos dela disse que a fala da mãe foi compartilhada fora de contexto e que ninguém da família falaria sobre o assunto.

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