Nas últimas duas semanas, episódios de racismo, registrados em vídeo e áudio, ganharam o noticiário. Dois clientes foram acusados de levar mercadorias de shoppings. Um jovem foi considerado suspeito de furtar uma bicicleta. E uma moça foi humilhada depois de vencer um concurso de beleza. Pessoas negras atacadas em sua dignidade. A repórter Renata Ceribelli conversou com três vítimas e perguntou a especialistas: por que é tão difícil punir o racismo com rigor?
Em uma pequena cidade de Minas Gerais, Maiza de Oliveira, de 19 anos, foi eleita como a Rainha da Cidade, em Santo Antônio do Amparo, mas a alegria só durou até ela ouvir um comentário racista que se espalhou por grupos de WhatsApp da cidade.
“É, os pretos estão mandando em tudo mesmo. É cota na escola, é cota aqui, é cota ali. Da próxima vez, nós temos que pular num tanque de creolina e sair tudo pretinha. Aí pode se candidatar a qualquer coisa que ganha”, disse a agressora no áudio.
Foram vários os casos de ofensa contra negros nos últimos dias por todo o Brasil. Em Cuiabá, o servidor público Paul Arifa, de 38 anos, gravou o momento em que era acusado de roubar o sapato que tinha acabo de comprar.
Outro caso aconteceu no Rio de Janeiro, quando o instrutor de surfe Matheus Ribeiro foi acusado injustamente de furtar a bicicleta de um casal. Esta semana, foram divulgadas imagens do momento em que a bicicleta do casal foi furtada. Igor Pinheiro, conhecido como ‘lourão’, é branco, tem 24 passagens pela polícia e está em prisão preventiva.
A tecnologia tem sido uma aliada importante para denunciar casos de racismo. Muitas vezes, apesar das imagens, quando essas denúncias chegam nas delegacias, são registradas como calúnia, crime de punição mais branda, e não como injúria racial.
“O grande problema da lei brasileira é que ela não é objetiva, depende da interpretação do delegado. E tem um ponto central desse problema, que é o seguinte: a maior parte dos delegados e delegados são brancos, os promotores e juízes são brancos. Dados do CNJ dizem que apenas 18% dos Magistrados do Brasil são negros ou pardos”, diz o advogado Fabiano Rosa.