Justiça por Moïse Mugenyi, Durval Teófilo Filho e todo o povo negro

Enviado por / FonteEcoa, por Anielle Franco

Seja um preto favelado que foi “confundido” com ladrão, uma jovem grávida que sai para visitar sua avó e não volta, um trabalhador imigrante que é espancado e morto por cobrar seus direitos ou uma mulher negra eleita, a sociedade brasileira parece acreditar que nossos corpos são descartáveis. Me pergunto: que ódio é esse que temos vivido nos últimos anos em nosso país? Como dormir e acordar tranquilos num país que todos os dias, sistematicamente, mata negros, trans e qualquer tipo de ser humano que não seja padrão?

O assassinato de Moïse Mugenyi no fim de janeiro por cinco homens em um quiosque da Barra da Tijuca e o assassinato de Durval Teófilo Filho pelo seu vizinho em São Gonçalo apenas alguns dias depois são crimes que escancaram a face mais cruel de nossa sociedade. As cenas de violência que Moïse sofreu ecoam em minha mente. Ver sua mãe e amigos chorarem a sua morte destroçou meu coração. Me coloquei no lugar daquela família, daquelas pessoas, daquele ser humano. Precisamos lembrar que estamos falando de um ser humano.

O mesmo país que acha normal matar um congolês que veio em busca do seu sonho, acha normal quando nós mulheres somos espancadas por companheiros, quando somos estupradas por estarmos com roupas curtas, ou vou além, quando uma mulher negra eleita morre com cinco tiros na cabeça. Volto a perguntar: Que ódio é esse que está tomando conta de nossa sociedade?

Não me refiro a ódio físico, mas me refiro a qualquer tipo de ódio que temos visto e vivido nesse país nos últimos anos e década, que tem sido legitimado por uma parte da sociedade que insiste em dizer que tudo é mimimi. Lutar por direitos, cobrar respostas, impor o fim do racismo, garantir direitos, tudo é mimimi? Será? Não! Não é mimimi.

É direito a vida, a sonhos, a futuro. Futuro que nos é negado. Até quando teremos que enterrar nosso povo preto e continuar calados por conta do seu achismo de mimimi? Chega de genocídio ao povo negro. Chega de chorarmos nossas perdas. Chega de sermos o país que tem uma população negra acima de cinquenta por cento, mas que insiste em nos invisibilizar.

Eu rezo e torço todos os dias pelo dia que teremos nossas vidas e nossos sonhos cuidados e valorizados. Que nossa cor não seja motivo para morrermos. Que nossas mães não mais enterrem seus filhos. Torço para que esse dia chegue comigo ainda em vida. Enquanto isso não acontece, sigo gritando por justiça? Justiça por Moïse, por Durval, por Marielle e por todo povo negro.

+ sobre o tema

Começa hoje pagamento de R$ 200 da primeira parcela do Pé-de-Meia

A primeira parcela do programa Pé-de-Meia, no valor de...

Um país doente de realidade

O Brasil é um país "doente de realidade". A...

para lembrar

Assassinato da Drª Isabel Machado, Advogada Criminalista e Presidente da OAB-RJ seção Cabo Frio

Assassinato de Isabel Machado: Movimento negro solicita intervenção da...

Juventude negra no Brasil vive em campo minado

Cassiano* percebeu que havia algo de estranho quando seus...

Seguranças pegam criança pelo braço e a expulsam de shopping no DF;

Publicitária filmou ação; criança teria mexido em comida de...
spot_imgspot_img

Refletindo sobre a Cidadania em um Estado de Direitos Abusivos

Em um momento em que nos vemos confrontados com atos de violência policial chocantes e sua não punição, como nos recentes casos de abuso...

Plano Juventude Negra Viva será lançado em Ceilândia (DF) nesta quinta-feira (21)

O Plano Juventude Negra Viva (PJNV) será lançado pelo Ministério da Igualdade Racial nesta quinta-feira (21) em Ceilândia, região administrativa do Distrito Federal. O...

Movimentos sociais e familiares de mortos em operações policiais realizam ato em SP

Um ato para protestar contra a matança promovida pela Polícia Militar na Baixada Santista está agendado para esta segunda-feira, 18, às 18h,  em frente...
-+=