Lançado Glossário do Pensamento Contracolonial, um guia que ajuda a ecoar ideias de intelectuais brasileiros

O que significa a palavra “oralitura”? Como as “encruzilhadas” se relacionam com as cosmologias afrobrasileiras? O que Ailton Krenak quer dizer com a expressão “futuro ancestral”? Essas são algumas perguntas que encontram caminhos no Glossário de Termos do Pensamento Contracolonial Brasileiro, um guia pensado para ecoar ideias de intelectuais brasileiros que pensam através do viés da contracolonialidade. 

A publicação é uma iniciativa do Nonada Jornalismo, organização sem fins lucrativos que atua na área da cultura e do jornalismo desde 2010. O ebook está disponível online NESTE LINK e pode ser replicado, impresso e distribuído livremente, desde que citada a autoria.

Para a primeira edição, foram selecionados 22 termos de intelectuais clássicos do Brasil, como Abdias do Nascimento, Lélia González e Paulo Freire, e contemporâneos como Sueli Carneiro, Leda Maria Martins e Luiz Rufino. A contracolonialidade pensada por Antônio Bispo dos Santos também está presente na publicação, bem como os termos “descolonização” e “decolonialidade”. 

A iniciativa pretende ser uma porta de entrada para estudantes, educadores, jornalistas, profissionais do Terceiro Setor e demais pessoas interessadas em compreender conceitos que ajudam a explicar estruturas históricas e socioculturais do país.

A proposta segue o conceito de repartir, criar um outro ponto de partida, não individual, mas compartilhado. A publicação insere-se em um campo maior que pesquisa a descolonização com muita consistência, e há muito tempo, e tem como referências bibliográficas as obras dos intelectuais selecionados, além de artigos acadêmicos de pesquisadores que estudam os conceitos.

O glossário traz ainda uma entrevista sobre a origem afro-indígena do termo “decolonialidade” e também dicas culturais e indicações de livros e de trabalhos artísticos que dialogam com os termos. 

Um exemplo: contracolonialidade

A contracolonialidade busca desmantelar as opressões experimentadas pela sociedade desse a invasão dos colonizadores em terras habitadas por povos afropindorâmicos, ou seja, populações indígenas, negras, quilombolas e mais.

Antônio Bispo dos Santos acredita que a partir do conhecimento e sabedoria dessas populações é possível construir uma ética e uma política comunitárias capazes de habitarem as ruínas deixadas pelos invasores. O quilombola diferenciava decolonialidade de contracolonialidade ao defender que, por ser quilombola, nunca foi colonizado, incluído na sociedade brasileira, e, portanto, não precisa se decolonializar e sim contraria o colonialismo a partir da contracolonialidade.

“O contracolonialismo é simples: é você querer me colonizar e eu não aceitar que você me colonize, é eu me defender. O contracolonialismo é um modo de vida diferente do colonialismo”, Nêgo Bispo em A terra dá, a terra quer.

A contracolonialidade pensada por Nêgo Bispo está presente na publicação


Sobre o Nonada

Associação Cultural Nonada Jornalismo é uma organização sem fins lucrativos que entende a cultura para além da produção artística. Desde 2010, busca ecoar com viés decolonial as múltiplas vozes que formam a cultura brasileira, com enfoque em pautas e projetos sobre processos artísticos, políticas culturais, comunidades tradicionais, culturas populares, direitos culturais, memória e patrimônio, cultura e clima. 

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