Leda Nagle: O preconceito avança

O ódio pelo outro sempre foi assim tão claro, eu é que me distraí e, agora me espanto?

Do O Dia 

É rancor o que se vê por toda parte. Nas menores coisas, nas coisas mais banais como briga de vizinhos até nas situações mais graves, como na política internacional, nas discussões religiosas, ou nas demonstrações de preconceito. O mundo sempre foi assim? O ódio pelo outro sempre foi assim tão claro, eu é que me distraí e, agora me espanto? Pode ser. Não consigo parar de me assustar, por exemplo, ao pensar sobre o que leva uma pessoa a exibir seu racismo, dando bananas a trabalhadores negros no dia da consciência negra? Ou jogando bananas nos campos de futebol , gesto que tem se repetido do mundo.

Não acho muito diferente de quem fica feliz com a quebra da árvore de natal da Lagoa. No fundo ou no raso, é tudo preconceito. No caso da árvore, a desculpa é que o trânsito fica engarrafado. Mas, na verdade, é engarrafado o ano todo, o dia todo, o tempo todo. Não só na Lagoa, não só no Rio. A questão, na real, é que a árvore incomoda a este tipo de gente porque vai atrair um monte de gente pobre, que não é dali, e vai usufruir aquele espaço público, com sua família, que não usa roupa de grife, comendo pipoca, e se deliciando com o acender e o apagar das luzes. O interessante é que estas mesmas pessoas que ficam felizes com o acidente da árvore, e se unem , nas redes sociais, para torcer para a árvore não ser reconstruída, são aquelas que viajam para se deliciar com a linda decoração da Times Square em Nova Iorque, com as luzes de Paris ou com o Natal de Luz de Gramado. Estou convencida de que são pessoas que se acham diferenciadas, especiais, portanto só elas merecedoras de bonitos espetáculos.

E, claro odeiam a ideia de compartilhar, democraticamente, fora de suas tribos, momentos especiais. Mas voltando ao caso das bananas e do racismo escancarado, recorro ás palavras de uma médica negra, que admiro, e que analisa com muita lucidez o nosso tempo e como o racismo aparece mais claro, hoje em dia, no real e no virtual. Segundo Jurema Werneck, da Ong Criola, o preconceito ficou mais desinibido por duas razões: “por uma conquista, porque as lutas negras exigiram que mais e mais denúncias contra o racismo sejam feitas mais vezes, no mundo inteiro e porque, num segundo momento, este que estamos vivendo, no mundo todo, não só no Brasil, é um tempo de perda da ética e perda do sentido de solidariedade e por isto o racismo está se acirrando”.

Jurema lembra, que há pouco tempo ninguém queria ser racista, até porque é crime, e que , agora, o racismo chega a ser motivo de orgulho para alguns, colocado francamente nas redes sociais, como se vê todo dia, e também , por consequência, na vida real. Jurema também pensa que o avanço da luta negra faz com que o outro lado manifeste seu ódio com a perda do privilégio de se achar especial. E isto explicaria também porque a gente tem constatado o crescimento do ódio pelos gays, lésbicas, trans, gordos, baixinhos e gente que cresceu demais. Faz sentido o que Jurema diz..

 

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